sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Minha camisa vermelha [Dilan Camargo]



Uma seleção de cronistas colorados, convocados e escalados pelo organizador deste livro, Athos Ronaldo Miralha da Cunha, entra em campo para jogar o jogo das palavras, escrevendo uma excelente literatura de futebol. Todos vestiram a camisa vermelha, soltaram a imaginação, a ironia, a ludicidade e a sua paixão pelo Internacional. Trocaram os pés pelas mãos e escreveram crônicas que nos levam a habitar em outro mundo, o “mundo paralelo” do nosso glorioso Inter, como diz um dos cronistas, Diego T. Hahn. Eles remexeram na memória, reviveram jogos, criaram e recriaram situações, episódios, e principalmente celebraram a vida e a trajetória apaixonante deste que é a glória do desporto nacional, o Sport Club Internacional.
Sempre houve uma ligação muito estreita entre escritores e jogadores de futebol, com algumas exceções como Graciliano Ramos e até Machado de Assis, dizem. Ambas as atividades exigem imaginação para criar, inventar, surpreender, e até mesmo para dar um balão pro mato que o jogo é de campeonato. Exigem fôlego, pulmonar e literário. Exigem persistência para escrever linhas e linhas, e para correr entre as quatro linhas até o fim dos tempos. Exigem superação e a busca da vitória, seja com gols contra os adversários, seja pela colocação de um ponto final numa obra literária.
O escritor Athos Ronaldo Miralha da Cunha é o jogador, o treinador, o capitão, enfim, o carregador de piano de várias formações de times de escritores colorados, responsável pela organização de outros tantos volumes de crônicas sobre o Inter, que receberam reconhecidas premiações Brasil afora. A publicação dessas coletâneas, como esta “Minha camisa vermelha”, tem contribuído para o crescimento e a valorização da literatura sobre futebol neste país do futebol. Santa Maria tem se constituído assim, graças a essas publicações, num dos mais importantes centros de produção e de divulgação da boa e da melhor literatura futebolística.
O leitor está convidado para correr os seus olhos e a sua alma por estas linhas, para jogar junto com o time, e fazer desta leitura, mais uma retumbante vitória do nosso Colorado. E, como sempre, com uma inesquecível goleada literária.






sexta-feira, 3 de outubro de 2014

Não levante o dedo para mim



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Todos os candidatos postulantes ao Palácio do Planalto falaram nos seus programas em reforma política. E todos estão certos nessa intenção. É a principal das reformas.
Abro colchetes. [Já faz algum tempo que tramitam projetos nesse sentido no Congresso Nacional e todos os atuais candidatos fazem parte da nossa elite política, são detentores de mandatos e não foram capazes de encaminhar e aprovar algo semelhante. Esperamos não ser, novamente, mais uma proposta eleitoreira]. Fecho colchetes.
A nossa democracia representativa precisa ser rediscutida, precisamos de uma democracia mais igualitária. Uma democracia mais espraiada na sociedade. Vejamos o período eleitoral que é o auge da participação e onde vemos aflorar as mais diversas altercações ideológicas, religiosas e comportamentais. E algumas excrescências, diga-se.
A nossa eleição é muito desigual. Começa com o tempo de televisão e encerra com a capacidade de recolher contribuições. Na corrida presidencial analisando, apenas, o G3, podemos observar que uma candidatura arrecadou R$ 100 milhões a mais do que outra. Sem falar no latifúndio de tempo no horário gratuito. Convenhamos, é uma corrida desigual. E para modificar esse quadro requer uma profunda discussão. E é uma discussão polêmica e de difícil acordo, pois envolve interesses diretos de partidos e de poder.  Evidente que tem que existir uma diferença de tratamento entre um partido com 80 deputados e outro que tem 5, mas é possível reduzir essa diferenciação de modo que torne mais parcimoniosa e mais igualitária.
No entanto, embora o pouco espaço de mídia e modestas contribuições têm candidaturas que consegue expor seus projetos e visão de mundo e agregam muito mais no debate político do que longas imagens de um país irreal ou de achincalhamento pessoais de lada a lado. Como também têm candidaturas com o mesmo padrão de tempo de mídia e arrecadação que conseguem mostrar o que de mais atrasado e reacionário pode existir em um pensamento. E esse é o grande imbróglio de uma reforma: como tratar os ditos pequenos partidos? Porque são incomparáveis as contribuições de Luciana Genro e o arremedo de candidato Levy Fidelix, por exemplo.
Luciana Genro incorpora a candidatura que se supera com a falta de tempo e a pouca arrecadação. Aí entra o fator ideológico e temas intocáveis pelas “principais” candidaturas, ou seja, o fator surpresa dessa eleição é a Luciana Genro. Entrou na campanha disposta a colocar o dedo nas feridas e levantar as bandeiras mais polêmicas.
A candidata do PSOL trouxe para o debate a postura de uma esquerda moderna. Uma esquerda que avança para além da esquerda pré-muro de Berlim. Colocou na mesa temas como homofobia, maconha, casamento homoafetivo, taxação dos bancos e imposto sobre as grandes fortunas. Discussões que estavam tangenciando os candidatos do G3, sendo que alguns pontos sequer estavam nos programas.
Com pouco tempo e mínimas arrecadações Luciana Genro conseguiu fazer um estrago nessa campanha, imagina com um tempo maior e com financiamento público. Talvez os números do Datafolha seriam diferentes.
Em 2010 Plinio fez diferente na campanha e era um simpático candidato de esquerda, nesse 2014 coube mais uma vez a candidatura do PSOL ser esse diferencial. Não ficamos indiferentes após cada debate, com a participação de Luciana, em relação às suas propostas e seu desempenho.
Acredito que se os debates fossem em horário nobre, num amplo encontro de ideias, Luciana Genro estaria como o Inter e o Grêmio no atual campeonato brasileiro: na cola do campeão ou disputando vaga à Copa Libertadores.
“Não levante o dedo para mim” foi a frase que a candidata falou para Aécio Neves, o neto, quando ele replicava. Aécio baixou o dedo e concluiu. Essa parte do debate foi breve e sem grandes desdobramentos – não houve alteração na escala Richter –, mas foi muito significativo.
Alguém pode perguntar: esse texto é uma declaração de voto?
Respondo: é.