Athos
Ronaldo Miralha da Cunha
Em
1978 as mães de desaparecidos políticos na Argentina buscavam noticias de seus
filhos, como não obtinham respostas dos gestores de plantão – havia uma
ditadura na Argentina – essas mães protestavam na praça de Maio em frente a
Casa Rosada. Elas faziam caminhadas silenciosas com lenços brancos na cabeça que
era o símbolo da luta pela justiça. As mães da praça de Maio fizeram mais de
1500 protestos, elas exigiam o paradeiro de mais de 30 mil desaparecidos e 500
crianças – filhos de presos políticos – que foram enviadas para adoção. Essas “Loucas
da praça de Maio” mantem uma universidade, uma rádio e uma biblioteca.
Perseverança,
indignação e uma busca incansável por justiça. Esse o legado que temos como exemplo
dessas determinadas Mães Argentinas. É nesse sentido que a juventude, pais,
amigos e população dessa Santa Maria da Boca do Monte exigirá com respeito ao
assassinato coletivo que houve na boate Kiss no fatídico dia 27 de janeiro de
2013. Não queremos nada por debaixo dos panos, queremos lenços brancos nas cabeças
em busca de justiça. Não queremos políticos de plantão em busca dos holofotes
da tragédia. Queremos “locas y locos” rondando a nossa Casa Rosada clamando por
justiça.
São 238
jovens mortos, mais de uma centena de feridos e é notório que essa tragédia da
boate Kiss foi causada pela ineficiência e inoperância dos poderes públicos –
municipal e estadual –, e até o presente momento ninguém, mas ninguém mesmo foi
exonerado de seu cargo. Estão todos lá, tentando justificar o injustificável. E
isso é um acinte à memória dos jovens falecidos, às famílias enlutadas e a
população em geral. E quando a gente fala em omissão dos agentes públicos ficam
cheios de dodóis.
Não está
no horizonte dos gaúchos alguma impunidade como consequência dessa tragédia da
boate Kiss. Como está bem explicitado nas reportagens, há uma cadeia de responsabilidades
e esperamos que os responsáveis pelo funcionamento dessa câmera de gás – projetos,
licença e fiscalização – sejam devidamente julgados.
Nesse triste
episódio temos um julgamento criminal e o julgamento político. Não podemos
dissociar, há agentes públicos nessa engrenagem macabra de responsabilidades. E
não passa pela nossa imaginação a impunidade sobre a péssima gestão da máquina
pública. Assim, os criminosos responderão pelos crimes e os gestores públicos
pela sua inoperância. Só resta saber qual a pena cabível para esses gestores?
Ministério
público entrou na investigação sobre as responsabilidades da noite de 27 de
janeiro na boate Kiss. E eu acho que a cobra vai fumar... assim espero. Nesses tempos
de impunidades a lo largo Brasil
afora, não há mais espaço para a complacência e jeitinho diante das vítimas da
boate Kiss. O nosso grau de indignação está muito elevado para permitir esse
descaso. Aqui a lei de Roberto Jefferson não funcionará. “Never complain, never
explain, never apologise". Tradução
livre “Nunca se queixe, nunca se explique, nunca se desculpe”. Meus caros, se estão
esperando por isso, tirem o cavalinho da chuva.
Se a impunidade for a consequência dessa tragédia, seremos
eternos errantes a caminhar silenciosamente na praça Saldanha Marinho.
ps
Só para constar.
No caso do incêndio da boate República Cromañón em Buenos
Aires que vitimou 194 pessoas em 2004, o prefeito foi apeado de seu cargo após um
julgamento politico em 2005.
Um comentário:
A princípio cogitei que o que ocorreu na boate foi uma fatalidade. Mas as informações apresentadas logo após, dia após dia, me fizeram mudar de ideia. A casa não oferecia alternativas de fuga para o caso de incêndio e, pior de tudo, utilizava material conhecidamente condenável pelos engenheiros da cidade (estou me referindo à espuma).
Como bem disseste, Athos, houve uma cadeia de falhas, de erros, de irresponsabilidades. E não é nenhum equívoco dizer que essa cadeia vai além dos donos da casa noturno e dos músicos que tocavam naquela noite.
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