quinta-feira, 25 de março de 2021

O homem de Neandertal

Athos Ronaldo Miralha da Cunha


Pedi para o Wikipédia algumas informações sobre o Homem de Neandertal. É que eu tive a impressão de tê-lo visto em um pronunciamento em cadeia nacional. Não pode, pensei, esses caras deitaram o cabelo da face da terra há um bom tempo... será que existe um remanescente?

Relato abaixo alguns dados interessantes, para embasar uma pergunta no final. Taokei?

O Homem de Neandertal (Homo neanderthalensis) surgiu há cerca de 400 mil anos na Europa, Médio Oriente e extinguiram-se há 28 mil anos. Isso é um dado importante.

A cultura de Neandertal era sofisticada em vários aspectos. Além de ferramentas, também usavam o fogo, eram bons caçadores e já cuidavam dos doentes.

O cérebro do Homo sapiens sapiens tem um tamanho médio de 1.400 cm³, enquanto o dos neandertais chegava a ter cerca de 1.600 cm³. Estudiosos descrevem-no como um ser de considerável cultura. Opa! O Neandertal que vi na televisão não parecia tão culto. Pelo contrário, parecia bem bronco.

Estudos realizados em 2017 comprovaram que o homem de Neandertal detinha bom conhecimento das plantas medicinais e as suas propriedades anti-inflamatórias e analgésicas, fazendo ainda o uso de antibióticos 40 mil anos antes de ser descoberta a penicilina. Então, o cara que eu vi na televisão era, apenas, parecido com o “Tio Nander”.

Como em nossa espécie, mostraram-se unidos por laços afetivos e possuíam habilidades como o altruísmo, já que cuidavam de indivíduos fracos ou doentes que, de outra forma, não teriam sobrevivido. Definitivamente, não há semelhança entre o cara da televisão e o Homem de Neandertal.

Bueno, pincei alguns dados do Homem de Neandertal para fazer uma indagação:

– Já pensaram se nós tivéssemos um Homem de Neandertal na presidência da República? Bem provável que não estaríamos nesse caos que estamos vivendo.

terça-feira, 9 de março de 2021

Matungo torto

Athos Ronaldo Miralha da Cunha


Não sou matungo e ainda não sou torto, mas sou mais desconfiado do que matungo torto.

Porque hoje foi impactante. Espichei a sesta um pouco além da conta e acordo com a notícia bombástica de que os “processos de Lula” foram cancelados – para usar uma palavra da moda – pelo ministro Edson Fachin. O povo de Curitiba não tinha competência para julgar.

Como assim, cara-pálida? Pelo visto eu acordei da sesta e o ministro acordou do coma.

Só agora foi percebido pelo STF o tal descalabro do julgamento. Quantos anos, mesmo?

Não quero entrar no mérito da questão, mas todo esse tempo de julgamento e tudo não valeu nada. E nós nos emocionamos em vão. Brigamos com os parentes. Xingamos os colegas. Nos tapeamos pelo Facebook. E tudo isso para nada? Qualé broder!

Quanto dinheiro público foi gasto para o ministro receber um facho de luz e dizer que está tudo errado.

Aí numa decisão monocrática – canetada – vem e diz. O juiz de Curitiba queimou a largada. Temos que começar tudo de novo. Só falta fazer arminha para essa nova largada.

Quem devolve o tempo de Lula? Como mensurar as noites maldormidas? A ansiedade. A solidão. E o convívio familiar. Lula estava cumprindo a pena de um julgamento que estava fora dos padrões jurídicos.

Esse ministro chegou atrasado e, pelo visto, aliviou geral. Mas nessa história toda sai o STF mais chamuscado. Como é que a mais alta corte deixa acontecer um julgamento incorreto. Onze ministros e só agora um deles veio a público e acabou com a ladainha curitibana. Por que não estou surpreso?

Quem sou eu – um palpiteiro periférico – para opinar sobre julgamentos e processos se nem os juristas se entendem.

Mas eu sempre lembro uma frase do então candidato a governador Olívio Dutra, quando perguntado sobre o cumprimento dos contratos.

Ele respondia: Serão cumpridos todos os contratos juridicamente perfeitos e socialmente justos. Me parecia uma postura sensata.

Penso que cabe nesse episódio dos “processos de Lula”. Não estavam juridicamente perfeitos e não eram socialmente justos. Calma, que tem recursos... Mas o tempo de cárcere ninguém repõe. Não tem como estornar esse tempo perdido.  Claro, Lula não foi absolvido, será julgado em outro plano, outra esfera, sei lá, me confundo no juridiquês. Mas terá outra turma julgando o Luiz Inácio.

Esse país é uma república do carteiraço e da canetada. Se você não tem uma carteira e não tem uma caneta, sinto muito, você está fora do espetáculo.

Você está fora do estádio. Ouve o barulho da torcida comemorando, mas não sabe quem fez o gol.

Como desconfiado na enésima potência busco no Aparício Torelly uma explicação.

“Há algo no ar além dos aviões de carreira”.

domingo, 7 de março de 2021

“Noite de vento, noite dos mortos”

Athos Ronaldo Miralha da Cunha


O vento está em nossos pensamentos, no dia-a-dia e na literatura.

“Noite de vento, noites dos mortos” era a frase que Ana Terra falava sempre quando ventava nas noites do pampa. E, assim, girava a velha roca do tempo. Ana Terra, personagem imortalizada por Erico Verissimo em O Tempo e o Vento.

Isso tudo porque a vida é um sopro de vento nas noites de todos os tempos e pode ser Norte... Minuano... Pampeiro e tantos outros. Me apraz o vento Norte na esquina da Acampamento. Ali me sinto santa-mariense.

O vento é uma constante em movimento. E respeita as leis de Newton: é uma força exterior e a reação é instantânea. O vento só não movimenta as sepulturas e os cabeças-de-vento. É motivo de muitas divagações nestes dias de apreensão e tormento.

Em uma das suas múltiplas filosofadas a presidente Dilma sonhou ou desejou estocar o vento. E foi motivo de muitos debates mundo afora. O povo das exatas surtou e os físicos não tinham o que dizer. Eu entendo de vento encanado, minha avó tinha certa aflição e essa aflição trago comigo, só não sei explicar.

Mais sábio foi um antigo morador de Osório ao responder à pergunta sobre qual seria a receita para ficar rico. Conhecedor da região não titubeou: se pudesse engarrafar o vento, certamente, seria uma pessoa rica.

Agora nestes tempos de vendaval pandêmicos temos o vento em forma de seringa. Do vento injetável. Sempre o vento e ele é o menos culpado.

Não conseguimos engarrafar o vento, estocar, apenas, contemplar o vento Norte nas saias das gurias. O Pampeiro que na aduana se transforma em Minuano no inverno. Mas conseguimos injetar vento nos braços dos idosos. Um descalabro com Ana terra... Havia alguém para levar vantagem.

Isso demonstra que não aprendemos nada com as tragédias, com as pessoas solidárias e com a exaustiva categoria dos trabalhadores da saúde. Quando esta terra vai cumprir seu ideal? [Fado tropical – CBH]

Então, resta seguirmos nesta jornada de clausura e distanciamento. Pois a Ana Terra da clausura dispensa o vento. Apenas “Noites dos mortos”. Faz mais de ano que todas as noites são noites dos mortos. O vento está dispensado. O vento está nas baladas, nas aglomerações, nas praias. E essa fatura vem em doses diárias e é contabilizada sempre às 20hs.

Você faz parte dessa noite? A seringa das tuas atitudes tem vento ou solidariedade. Vazio ou comprometimento? Ou você é, apenas, mais um idiota em que o centro do universo é o seu umbigo?

Lembre-se, noites dos mortos... às 20hs.