Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Quando o Inter engrenou aquela série de vitórias que nos encheu de sonhos e esperança, eu lembrei do Brizola: era o cavalo passando encilhado.
O Colorado bateu o recorde de vitórias consecutivas em campeonatos com pontos corridos. E com esse ânimo chegamos nesta semana que antecede a decisão do brasileirão. Um jogo em que os dois protagonistas estão na briga pelo título. Mas a vitória consagra o Inter tetracampeão.
Não somos mais um cavalo paraguaio [sic] e já somos, há um bom tempo, o feliz cavalinho do Fantástico e agora estamos como um “potro sem dono” em disparada.
Há um Flamengo no meio do caminho. O todo poderoso time carioca, multimilionário e com a maior torcida do Brasil. Com uma imponderável influência extracampo. Essas artimanhas que a gente não comenta, mas sente. “Há algo no ar além dos aviões de carreira” diria o Barão de Itararé. Mas os poderosos também se ajoelham.
Tenho convicção que, com exceção dos torcedores do Flamengo e os tricolores do coirmão, as demais torcidas estão com o Inter. É simples: torcemos sempre para o mais fraco. Torcemos para quem desafia os soberanos. A mídia esportiva já declarou o Flamengo campeão, mas o Clube do Povo do Sul do Brasil tem história, legado e uma legião memorável de craques. Essa camisa vermelha tem o peso de um século. Representa a garra, a paixão e o sorriso de uma criança. É leve como um casal que dança chamamé e vibrante como o grito de liberdade na praça. Essa camiseta é abençoada pelo sol-poente do Guaíba. O mesmo sol que iluminou o gol de Figueroa. E as extraordinárias defesas de Manga.
Domingo teremos a valentia farrapa e a gana missioneira em campo no Maracanã. Seremos um pouco Honório Lemes, Zeca Netto e Gumercindo Saraiva. Confesso: seremos um pouco Adão Latorre para degolar nossas amarras e nossos medos.
Domingo seremos todos maragatos em luta pela vitória.
Certa feita, uma gauchada invocada invadiu a Cidade Maravilhosa e amarrou os cavalos no obelisco. E isso foi uma façanha que colocou Getúlio Vargas no poder.
Agora, um cavalo encilhado passa em nossa frente. Temos que montá-lo e nos dirigirmos ao Maracanã. O obelisco de 2021 é o Mario Filho.
O cavalo do Brizola era a presidência e o velho caudilho não conseguiu montar. O cavalo encilhado do Inter é uma vitória de um a zero. Apenas uma vitória de um a zero com o gol de um piá de 19 anos. Esse é o meu desejo.
Esse é o meu direito de sonhar.