segunda-feira, 26 de julho de 2021

Cronologia da 2ªdona

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

 

O time perde no jogo de estreia. Mas como era um confronto fora de casa, não damos a mínima. Não contávamos com esse ponto e, afinal, são 38 rodadas e é só o começo.

Mais alguns jogos e o time perde e empata e ficamos indiferentes. Tem muito campeonato pela frente e nossa equipe é boa. Só falta engrenar. O time é bom e o técnico é supercampeão.  

Na décima quinta rodada o time ganha de um timeco de quinta que também está no Z4. Mas nosso time continua na zona do rebaixamento. Continuamos convictos, pois falta um pouco mais de pegada dos jogadores. Culpamos os gramados horríveis. E continuamos acreditando que nosso time é bom. Mas não saímos da zona. Inclusive, vislumbramos vaga para a Libertadores. O presidente vem a público dar total apoio ao treinador.

Mais umas rodadas e o time não encaixa vitórias. E continua no Z4. Trocamos o técnico, contratamos um ex-jogador que deu a vida pelo clube no passado. Ele tem estrela e história. E, além do mais, só depende de nós para sair da zona do rebaixamento. Agora rebaixamos nosso horizonte americano. Podemos conseguir, tranquilamente, vaga para a Sul-Americana. Repatriamos um centroavante da Europa com 39 anos. E colocamos nele todas as nossas fichas. Agora vai. A torcida assiste aos jogos ajoelhada e acende velas.  

Na vigésima oitava rodada o time continua no Z4. Mas basta conseguir uma sequência de vitórias que a gente sai dessa posição incômoda. Precisamos ficar na 16ª colocação e, afinal de contas, time grande não cai. Derrubamos novamente o técnico e entra o treinador da base.  

Mais duas ou três rodadas e já não dependemos de nós mesmos para escapar da zona. Precisamos de vitória de alguns e derrotas de outros para sairmos do Z4. Série B é a realidade. Agora caiu a ficha. E xingamos os dirigentes, treinador substituto, jornalistas esportivos, jogadores mercenários, torcida cola-fina e depredamos o estádio.

Faltando quatro rodadas e só um milagre nos salva da segundona. Conjunção de planetas, quartos de luas e reza da mãe Joana.

Mas às 20h, no final de um jogo derradeiro, já não temos mais salvação. A série B é uma realidade. Choram jogadores ao final do jogo e torcida diante da televisão.

Bueno. E como faz para não cair? É só não seguir essa cronologia.

sábado, 24 de julho de 2021

Faixa vermelha

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

 

Já faz algum tempo, muito tempo, mas eu fui praticante de Taekwondo e cheguei até a faixa vermelha... ponta preta.

Treinávamos no subsolo da USE – União Santa-Mariense de Estudantes – um prédio inacabado na rua do Acampamento e tínhamos como instrutor um coreano chamado Mestre Kim. Kim lá na Coreia deve ser algo como o Silva aqui no Brasil. Naquele tempo ele era o cara. Se autointitulava faixa preta 6º dan. Também aprendi a manejar o nunchaku. Eu mesmo fiz o meu com um cabo de vassoura.

Traduzindo tudo isso aí em cima: eu era metido, mas não era afoito. Nas saídas do DCE ou de um cineminha eu voltava a pé para casa, sem antes comer um Xis no Tareko em frente ao Hospital de Caridade. Mas caminhar pela Fernando Ferrari à noite no final dos anos 70, início dos 80, não era para qualquer um. Era uma rua – na prática ainda não era avenida – mal iluminada e sem calçamento. Voltava sempre desejoso que algum incauto viesse me assaltar. Eu sentia uma pena antecipada do assaltante. Naqueles tempos não havia a recomendação de não reagir a assaltos. Mas nunca ocorreu. Aliás, nunca utilizei minhas habilidades nas artes marciais fora da sala de treinamento. Uma vez lá na Mata – num fim de baile –, um gaúcho macho fez uma “gracinha” para uma amiga e quase me tirou do sério. Mas a turma do “deixa disso” acalmou os ânimos.

Com essa onda de insegurança que assola nossas cidades nos dias de hoje, eu sinto falta daquela autossuficiência que tinha para resolver alguma pendenga.

Hoje, nem pra faixa transparente eu sirvo. Na semana passada fui mostrar meus conhecimentos com o nunchaku e arrumei um galo na testa.

Enfim, meu coração é vermelho palpitante e já fui faixa vermelha. E para chegar na faixa vermelha tem que passar pela amarela e pela verde. A minha “vermelhice” é política, esportiva e etílica e vem de longe: desde 1909.

terça-feira, 20 de julho de 2021

O gosto do brasileiro

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Até o ano passado os brasileiros adoravam e assistiam, dominicalmente, às corridas de Fórmula 1.

Adoravam a Libertadores e a Copa América. A Copa América, então, era um desafio e tanto. Acirrava as nossas profundas divergências com os argentinos. Inclusive, divergências que a gente nem sabia que tinha.

– Como é bom ganhar da Argentina! – exaltava o narrador.

Bueno, era assim que nos portávamos diante desses torneios. Fanáticos, com fé e ira esportiva. Dava gosto de ver como torcíamos. E retorcíamos.

Esse ano tudo mudou. Como por encanto não gostamos mais da Copa América e a Libertadores passa quase “a lo largo” da nossa televisão.

Agora nós adoramos a Eurocopa. Aquilo, sim, é que é torneio. Só jogão. Outro nível.

Nós, brasileiros, desdenhamos a nossa medíocre Copinha e damos vivas a copa dos nossos colonizadores. Viva a Eurocopa!

Já aproveito a oportunidade e aviso que a Champions League nós também não vamos gostar. É mais ou menos a mesma turma da Eurocopa, mas não é para o nosso bico.

 

A última vez que assisti a uma corrida de Fórmula 1 foi há 27 anos. A fatídica corrida em que faleceu Ayrton Senna. Faz algum tempinho. Mas hoje resolvi assistir às voltas finais do circuito de Silverstone.

Lewis Hamilton venceu e o Walter, que correu de botas, chegou em terceiro. Se tivesse usado alpargatas teria melhor performance. A propósito: sou zero em avaliar esse esporte. Só curto o ronco dos motores.

 

Ainda hoje vou assistir aos jogos do Brasileirão. O do Inter, é claro. Esse campeonato, os brasileiros ainda gostam, mas não sei se por muito tempo. O gosto do brasileiro anda muito estranho.

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[Aos desavisados: contém ironia... muita ironia].

terça-feira, 13 de julho de 2021

Pátria e vida

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Costumava afirmar em tom de brincadeira – nos tempos do governo Lula – que era fácil ser dialético há quarenta anos, difícil era ser dialético hoje. Pois nos tempos de governo Lula a esquerda preferiu se recolher e o exercício dialético ficou à margem das reflexões.

Hoje, nunca na história desse Brasil se discute tanto a democracia. Porque vemos a democracia em perigo. Com a posse de Jail Borsonaro o fantasma da ditadura militar saiu do armário ou da caserna. Truculência e grosserias é o que mais presenciamos.

Há quem afirme que no Brasil está em curso um golpe militar. Por isso a sociedade e os movimentos sociais conclamam à resistência. Queremos a liberdade, imprensa livre, sem repressão as manifestações populares, sem prisões pelo ato de bater uma panela e, claro, vacina no braço. 

Aí, para espanto geral, eclodiu uma grande manifestação popular na mais famosa, impactante e charmosa ilha do mundo. Os cubanos foram às ruas pedir liberdade, comida e vacina.

“Pátria ou morte” de Fidel foi convertido em “Pátria e vida”. Novos tempos, novos jargões. Novas atitudes.

O aparato repressivo do estado cubano age com rigor. Prende manifestantes, baixa o cassetete, censura à imprensa e derruba a internet. O pacote veio completo para reprimir os gritos de liberdade.

Diaz-Canel afirmou que as ruas são dos revolucionários.

Pisou na bola, companheiro! A rua é do povo, dos artistas, dos movimentos populares. Muito simplista bradar que os protestos são de mercenários enviados por Biden. O Miguel terá que rever seus conceitos sexagenários ou aumentar a repressão para conter o clamor das ruas de Havana. Terceiriza a culpa e vira as costas ao povo. Só não pode dar uma de Migué, pois cai de maduro – sem trocadilhos – a abertura democrática.

Nós, aqui no Brasil, continuaremos lutando pelo estado democrático de direito e, à medida que a vacina vai se espraiando, seremos cada vez mais numerosos nas praças e nas ruas para conter a gana de candidatos a ditadorzinho de quinta. O povo na rua tira o sono dos poderosos.

As manifestações em Cuba nos remetem a profundas reflexões acerca do mundo que desejamos. O que queremos para a nossa nação e para os demais povos. Liberdade é a palavra que aflora nestes tempos indefinidos. E quando uma democracia e uma ditadura balançam devemos buscar no velho raciocínio dialético nossas análises.  

O povo cubano é alegre e hospitaleiro. Mas há uma necessidade de tudo. Lembro que antes de viajar para Havana um amigo falou “leve algumas camisetas do Inter, eles adoram times de futebol”. Levei três e presenteei alguns havaneses com o manto Internacional. Acho que vi o distintivo do Inter nos protestos em Havana. [rsrs]

Embora a necessidade do básico para sobrevivência o povo cubano clama por liberdade.

Vamos acompanhar as reflexões à esquerda. Assunto que adoro. Leio e gosto de ler as pessoas com extremada capacidade de reflexão.

Aguardemos.

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[Os mesmos recados de sempre: sem xingamentos e comentários somente com o bom e velho português. Memes, linques e emojis serão excluídos. Grosserias serão bloqueadas.]