Athos
Ronaldo Miralha da Cunha
No
dia 14 de junho de 2025 a menina Nova – era assim que se chamava: Nova –
acordou muito cedo. O dia seria longo e culminaria com a festa de seus 15 anos
no clube. O modesto Centro de Tradições Gaúchas Modesto Fagundes levava o nome
do primeiro subprefeito do distrito.
Abriu
a janela de seu quarto e vislumbrou os primeiros raios do sol daquela manhã.
Estava feliz e foi correndo para a cozinha dar um bom-dia aos pais. Tomou o
café numa ligeireza espantosa e logo começou os preparativos para enfrentar o
dia mais importante de sua vida. A ansiedade estava a olhos vistos. A menina
Nova precisava se arrumar e experimentar o novo vestido de prenda. E, pela
tarde, ensaiar os passos de dança com o Dilmo Peixoto, seu colega de aula e par
na noite de sua primeira valsa.
Nova
sonhou longos anos com esse dia. Teria uma flor no cabelo, um anel de pérolas
no dedo e o sorriso dos pais. Filha única dos professores estaduais Aristeu e
Clarisse.
Nova
e Dilmo tinham praticamente a mesma idade a diferença era de poucos meses.
Ambos haviam nascido em 2010, Dilmo em fevereiro e Nova em junho. Os pais
faziam gosto desse namorico, eram de famílias daquele distrito e se conheciam
desde crianças. Os pais de Dilmo foram fervorosos militantes nos primeiros anos
do século XXI e o nome do guri não fora escolhido ao acaso, bem como o nome da
irmã dois anos mais velha que se chamava Luiza. Assim, juntamente com os pais
de Nova e mais quatro casais, formaram a comissão de emancipação do distrito,
movimento que não prosperou, mas que em contrapartida conseguiram melhoras na
infraestrutura e aquela escola em que os filhos estudavam. Um colégio
reivindicado há muito tempo.
O pai
de Dilmo virou subprefeito e Aristeu Fagundes o primeiro diretor da escola fundada
dois anos após a mobilização de emancipação de Roda Carreta, o quarto distrito
continuaria distrito. Naquela oportunidade todos portavam um adesivo “Eu sou Rodacarretense”.
Mas algumas obras conseguidas pelos deputados da região e a Escola Estadual de
Ensino Médio Tocaio Barbosa fora um bom negócio. E a população assimilou a condição
de distrito.
O pai
de Nova também era conhecido como um dos melhores professores de português e
literatura da região. Até fora convidado para lecionar num cursinho pré-vestibular.
E essa
paixão pela língua portuguesa também foi evidenciada na filha. No nome da filha.
Nova não entendia o porquê de seu nome, ficava rubra de vergonha quando precisa
falar ou escrever todo o nome em algum cadastro.
Fez de
tudo para que no protocolo do baile fosse anunciado o nome Nova, simplesmente
Nova, que era um nome que ela adorava por ser inusitado e diferente. Mas na
hora da chamada das prendas o locutor não lembrou e anunciou a prenda, filha de Aristeu
e Clarisse Fagundes: Nova Ortografia da Silva Fagundes.
A guria
entrou bufando no salão.
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