Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Uma criança com uma tiara branca tem a
capacidade de nos comover, nos tornar compreensivos e pacificados porque nos
remete ao delicado e ao puro.
A tiara branca simboliza a candura de uma
vida que inicia e que nós, adultos e carcomidos, já não possuímos mais. Já não somos
mais as crianças de outrora que corriam atrás de uma bola, brincava com bilboquê
ou acariciava bonecas de pano. Quantas vezes estamos diante dessas situações idílicas
e não temos tempo para uma reflexão solitária diante de um lírio. Estamos insensatos
diante do simples e do espontâneo. Estamos acostumados com o nosso estilo que
pouco compreende e pouco satisfaz os desejos de uma criança que fomos e que
hoje está adormecida pelos anos. Uma tiara branca em uma menina nos remete para
a inocência, para a cooperação e a solidariedade. A tiara branca ainda nos
reponta a nossa infância que ficou num distante passado, num balanço em uma
praça ao sabor de um vento de primavera. Nos remete ao colo do pai ou aos abraços
da mãe. A menina com uma tiara branca é o que de mais singelo pode existir numa
ensolarada tarde de verão na praça Saldanha Marinho. A tiara branca é um
chafariz que purifica nossos caminhos. Um colibri numa flor branca na porta de
uma casa na Vila Belga.
Nesses “tempos bicudos” já não temos
mais a nossa tiara branca para sustentar a simplicidade das coisas. A singeleza
de alguns momentos de nosso dia a dia e que no futuro serão as nossas maiores e
melhores lembranças. Uma criança de tiara é linda e memorável, simples e agradável,
inigualável como o encontro com os amigos para um café numa quarta-feira
branca.
Não somos mais os mesmos e temos
centenas de motivos para sermos diferentes, jamais indiferentes. Não há mais
espaço para o ocaso. Mas temos tempo – muito tempo – para liberarmos nossa indignação.
Parodiando CHE. “Hay que endurecer pero sin perder la tiara blanca, jamás”.
Mas por que estou escrevendo sobre uma
tiara branca?
Hoje eu vi a foto de uma criança com uma
tiara branca e imaginei que ela estaria na praça. Desfrutando uma tarde com
seus pais. Mas, infelizmente, eu sei que aquele passeio estava incompleto. E aquela
imagem me cativou e permaneci todo o dia com a foto da menina em minha mente. E
no início dessa noite saíram essas frases aos borbotões. Uma crônica inspirada
na tiara branca da menina que passeava na praça. Uma tiara branca... simplesmente.
[*] Publicada no jornal A Razão no dia 27.01.2014.
[*] Publicada no jornal A Razão no dia 27.01.2014.
Um comentário:
Uma Tiara Branca pode ser também as digitais de um tempo, que por mais que o tempo corrido das nossas vidas faça, não consegue se apagar das nossas lembranças. É tudo que nos remete a um pouco de Paz, quando perdemos o chão...
Parabéns pela excelência e delicadeza do texto!
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