Nestes
tempos de destemperos verbais e físicos e filtros na mídia, uma notícia foi
como uma bomba entre a gadaria. Um alvoroço geral nas pastagens. Uma grave
denúncia de extermínio à comunidade. Assunto muito grave. O gado seria banido
da face da Terra.
Não
tinha mais o que protelar. A convocação de uma assembleia seria urgente para
decidir o que fazer. Organizar a gadaria.
A
assembleia extraordinária dos quadrúpedes em geral foi aberta no pastiçal à
sombra de um umbu. Havia uma grave e preocupante denúncia contra um de seus
protetores.
O
gado-mor abriu a reunião convocando a mesa para dirigir os trabalhos. Claro,
ele, o gado-mor seria o presidente e mais dois por conta das tendências dos
gados: um cavalar e um muar.
Fez a
costumeira saudação aos presentes e com a voz empostada comunicou que havia uma
grande conspiração para acabar com a vida do gadario. Seriam eles todos
transformados em bife, guisados e churrasco. Espanto geral nos presentes.
Mugido de todos os naipes. Até o cavalo lobuno – único presente na reunião –
deu um coice no ar. E relinchou raivosamente externando seu apoio ao movimento
gadadista.
O
gado-mor complementou que uma organização criminosa estava exterminando tudo
quanto era gado. E a reforma no estábulo e nos cochos era pura enganação. Aquela
história de um mundo melhor era outra trapaça dos criminosos. Ração boa, água e
banho era tudo para engambelar os incautos. Havia um conluio entre os
produtores, frigoríficos e supermercados, armazéns, açougues e botecos em geral
para exterminar a família gado do planeta.
Novo
espanto na plateia. Não pode! O proprietário era uma pessoa boa. Era o patrão e
tinha de ser respeitado. O peão que cuidava dos gados era, praticamente, da
família dos quadrúpedes. Com a única diferença que andava em duas patas...
Uma
balbúrdia tomou conta da assembleia. Confusão e discussões. O nelore e o
charolês quase foram as vias de fato.
Então
o gado-mor apaziguou os ânimos e falou que a gadocept havia interceptado uma
conversa entre o dono do frigorífico e o dono da fazenda – o nosso mui amado
patrão – e colocou o áudio da conversa para todos ouvirem.
O
charolês pediu a palavra e disse que tudo aquilo era teoria da conspiração. Não
acreditava em nada daquele áudio e, além do mais, interceptar conversas era
crime previsto na lei. E aquele áudio estava editado.
O
nelore pediu a palavra para contrapor, mas neste instante o peão da fazenda o
incansável Rubi Muarlone arregimentou todos para o banho e logo em seguida para
o curral.
Só o
picaço relinchou, novamente, e se mandou campo fora.
Um comentário:
Boa noite, excelente analogia nesses tempos de gado que diz e depois fala que não disse ou que desiste de dizer o que tava para dizer 🤷🤷🤷
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