sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Ó de Almeida

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

 

Sou da opinião que para melhor conhecer uma cidade devemos caminhar. Caminhando pelas ruas sentimos o cotidiano e alma do lugar e dos cidadãos. Belém do Pará – nós, gaúchos e colorados, sempre lembramos do Claudiomiro* – é uma cidade acolhedora, belas paisagens e prédios históricos de uma época mais glamorosa. São muitos, mas o teatro da Paz é imponente e o cais do porto totalmente revitalizado. Em Belém do Pará as gurias são charmosas quando dançam o carimbó. Tanto quanto as gaúchas num bailado de uma vanera ou uma castelhana dançando um chamamé. Nessa semana andei muito pelas ruas e ruelas e conheci a cidade, já me considero um pseudobelemense.

Outro dia, ao cruzar em frente ao prédio da OAB-PA, estava lá uma longa faixa com letras garrafais de um tema que nós, gaúchos – e a maioria dos brasileiros –, desconhecem. Uma faixa impactante em caixa alta “ATÉ QUANDO OS ADVOGADOS SERÃO ASSASSINADOS POR PISTOLEIROS NO PARÁ”. Tive que bater duas fotos para compor a faixa completa. Isso ainda existe num Brasil que está distante do STF e dos demais poderes constituídos. Uma luta silenciosa e inglória nessas longínquas florestas.

Numa manhã dessas estava descendo a avenida Assis de Vasconcelos em direção ao rio, onde rumaria para o mercado Ver o Peso, cruzei por uma rua chamada Ó de Almeida. Pombas! Ó de Almeida? Fiquei pensando, alguma coisa estava errada na rua. Ô Almeida! Que história é essa de Ó de Almeida. Se é Ó teria que ser de Olmeida ou seria A de Almeida. Mas também não fiquei divagando muito por conta desse provável erro. Isso era um problema do Almeida e seu Ó. Continuei minha caminhada. Num poste de luz poucos metros da outra esquina, um cartaz anunciava o concurso público do Tribunal Regional Eleitoral do Pará. TRE-PA. Mas esses belemenses estão de brincadeira... seria um convite ou uma denúncia?

Antes de chegar na esquina da rua senador Manoel Barata, uma senhora atravessa e pede uma informação. Nesses brevíssimos instantes imaginei que tipo de informação seria: onde fica a catedral diocesana de Santa Maria, quem sabe a vila Belga ou a rua do Acampamento ou o ônibus para a UFSM. Viagem minha, lógico, uma senhora em Belém jamais pediria tais informações. Então eu disse, pois não!

– O senhor saberia me dizer onde fica a rua Ó de Almeida.

São essas incríveis ironias que me deixam sestroso. A única informação que eu poderia prestar era justamente essa: onde fica a rua Ó de Almeida. Se ela perguntasse o hotel onde estava hospedado eu teria dificuldade em responder, mas a rua Ó de Almeida, essa estava encravada na minha mente. Naquela esquina conversei um pouco com a dona Maria Quitéria... ela era o maior barato.

Segui minha caminhada como um escoteiro que prestou a boa ação do dia.

Chegando no mercado público presenciei um larápio furtar um colar de uma outra senhora. Tudo instantâneo e muito rápido. Um grito, correrias e tudo volta ao normal em segundos.

E eu fui ver Ver o Peso e não achei nenhuma balança para ver o peso. Coisa de paraense.

* Claudiomiro, para quem não sabe, foi craque do Internacional no início dos anos 70 e falou, certa feita, antes de um jogo contra o Paissandu, que se sentia muito feliz em jogar na terra que Jesus nasceu.

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