Athos Ronaldo Miralha da Cunha
O dedilhar de uma milonga continua nesse
galpão acolhedor da literatura compartilhada.
Agora estamos diante desses contos
coletivos escritos a seis mãos, três gaúchos acomodados em mochinhos na volta
de um braseiro. Nas páginas de “Bastardo” vemos retratada a vida gaúcha no seu
mais singelo cotidiano, o simbolismo de uma cuia de mate em meditação e a prosa
nos encontros de tauras em qualquer ocasião, seja num galpão no seio de uma
várzea campeira, na sala de um apartamento na cidade ou na praça em um ponto de
táxi.
Esses textos compartilhados em três
capítulos são como as três cores do pavilhão rio-grandense. Contem paixão,
esperança e felicidade. Bem como a contramão das cores: raiva, desespero e
tristeza. Mas as fagulhas na memória e a pampa no horizonte, sempre presentes.
“Bastardo” formam um conjunto de
quase-contos ou quase-causos dessa literatura regional gaúcha que prezamos
tanto. As labaredas de um fogo no chão são insuficientes para contos escritos
nesses pagos, mas fundamental para transpormos as barreiras do campo e da
cidade. E, assim, não seremos bastardos das nossas origens e do jeito simples,
mas arrojado de olhar o mundo que nos rodeia.
Nessa nova rodada de contos coletivos invoca-se
um pouco mais essa terra, suas maneiras e seu jeito de ser. Por vezes, nessas
páginas, nós somos os próprios bastardos das nossas reminiscências e das nossas
inquietudes. Mas sempre sobrou uma cuia para cevarmos um mate literário – nunca
um mate lavado –, e com a mais genuína vontade guasca nas frases, como também
esporeamos um pouco mais as tramas em conflitos existenciais, despojados e
irônicos. Sossegados e violentos.
No entanto, nossa história não ficou
bastarda, pois somos três gaúchos oriundos de Itaqui, Santiago do Boqueirão e
São Luiz Gonzaga, pagos queridos de nossa querência. Não importando se a erva é
buena ou caúna, o que importa é que o mate roda de uma mão à outra e que o fogo
de chão literário esteja sempre em chamas.
O braseiro literário nunca se apaga, e o
tripé sustenta a chaleira para aquecer a água para o chimarrão. Então, coloque
mais lenha nesse fogo porque lá fora chove e faz frio.
Dia 18 de setembro às 18h na livraria
Athena.
Estão todos convidados para mais um
encontro do socialismo literário.
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