Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Eu não estou lembrado de ter usado um título em inglês numa crônica. Mas, convenhamos, um título na língua de Obama é muito mais chique.
Quando, no auge do mensalão, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmou como se comportar diante de uma acusação, usando uma frase do ex-primeiro-ministro inglês Benjamin Disraeli "Never complain, never explain, never apologise" deu a dica para os demais acusados.
Quando, no auge do mensalão, o ex-deputado federal Roberto Jefferson (PTB-RJ) afirmou como se comportar diante de uma acusação, usando uma frase do ex-primeiro-ministro inglês Benjamin Disraeli "Never complain, never explain, never apologise" deu a dica para os demais acusados.
E
assim se fez, todo e qualquer acusado negou e jurava de pés juntos sua inocência.
Alguns, inclusive, foram guindados a categoria de heróis. A tradução literal é “nunca
se queixe, nunca se explique, nunca se desculpe”.
O
atual momento da política brasileira põe em disputa duas forças que se acusam e
se rebaixam mutuamente: Petralhas x Coxinhas ou Trensalão x Mensalão ou
Lava-jato x Zelotes. Escolha seu clássico e torça porque o jogo é padrão Fifa,
literalmente. E, pelo visto, essa briga vai longe. Diga-se, uma briga de bugios
que nada acrescenta para o país e, ainda, coloca mais descrédito na desacreditada
classe política.
Algumas
lideranças que formaram uma legião de admiradores saem muito chamuscadas desse
processo todo. Não são mais os mesmos porque todos mudaram ou mostraram o que
realmente eram. O que falta para essas lideranças é um mínimo de autocrítica. A frase “nunca se queixe, nunca se explique,
nunca se desculpe” se justifica para alienados e seguidores fiéis. Cegos diante
das falcatruas. Doutrinados e incapazes de elaborar uma crítica. Mas não diz
nada para quem tem um mínimo de raciocínio e discernimento político. Somente vale
para alvorotar puxa-saco. O verdadeiro líder é o que consegue reconhecer suas
fraquezas, erros e compartilha responsabilidades. Cortar na carne? Só no
discurso para inglês ver.
Mas
no Brasil continuamos ouvindo “nunca se queixe, nunca se explique, nunca se
desculpe”. Mas volta e meia o juiz Moro bota alguém na cadeia.
O
desencanto vem de longa data e atinge as mais diversas personalidades e lá se
vão mais de uma década. A política regrediu e com ela os nossos sonhos. Os sonhos
que sonhávamos juntos não são mais sonhados. Não temos no horizonte uma utopia
para seguir.
O
máximo do desencanto se deu quando uma ilustre filósofa da USP resolveu odiar a
classe média. E odiou várias e várias vezes para uma mesma plateia. E o mais
intrigante é que um ex-presidente sorria ao lado da filósofa. Uma decepção seguida
de outra. Mas segue o Brasil construindo sua democracia mesmo que alguns
debiloides desejam a volta da ditadura.
Se
um dia eu for acusado também vou usar o recurso do ex-ministro inglês. Mas vou
usar em francês, porque se é chique na língua de Obama é chiquérrimo na língua de
Carla Bruni.
“Ne
jamais se plaindre, ne jamais expliquer, ne jamais excuses”.
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