Athos
Ronaldo Miralha da Cunha
Tomo
emprestado alguns dos versos de Mario Benedetti – A Ponte – para iniciar essa
crônica.
“Para
cruzá-la ou não cruzá-la eis a ponte. Nunca trouxe tanta coisa, nunca vim com
tão pouco. Na outra margem alguém me espera com um pêssego em um país”.
As
pontes estão nos noticiários. Sempre estiveram porque sempre estamos cruzando por
uma ponte. Mas existem pontes e pontes e podemos nominar algumas: as pontes do ódio,
do preconceito, do racismo e tantas outras a serem cruzadas e todas com cancelas
a serem abertas, principalmente, as porteiras dos nossos cadeados internos. Sonhamos
com um pêssego na outra margem, quiçá outro país. Mas existem as pontes reais de
ferro, tijolo, concreto e... cadeados. E são essas pontes que gostaria de
comentar. As pontes que caem e as que permanecem. Uma em Jaguari e outra em
Paris.
A
prefeitura de Paris retirou 45 toneladas de cadeados da Pont des Arts. Os casais apaixonados colocaram mais de um milhão de
cadeados nas grades da ponte com juras de amor eterno. Os “cadeados do amor”
estavam colocando em risco a estrutura da ponte e, assim, acertadamente os
técnicos – para isso existem os técnicos – avaliaram a possibilidade de danos.
E a decisão foi baseada em laudos: retiradas de cadeados.
Alguns
apaixonados e turistas sentimentais acham que terminou o encanto de Paris. Se o
encanto de Paris eram os cadeados da Pont
de Arts, Paris não deve ser tudo que dizem e mostram as fotos. O museu do Louvre,
a Torre Eiffel e o Quartier Latin devem ser uma chatice. Cafés e vinhos outra
chatice.
Costumo
afirmar em tom de brincadeira que – dado o ranço ideológico que assola o Brasil
–, a única vantagem de uma ditadura é a gente se exilar em Paris. Mas isso é só um
chiste, por favor.
Mas
vamos aos laudos. Os laudos foram feitos para serem emitidos por técnicos e
cumpridos por quem tem o poder de decisão. Certo? Assim, no caso de estruturas
das pontes – todas as pontes –, evitamos tragédias. Santa Maria conhece muito
bem esses “cadeados”.
Logicamente,
é preferível uma ponte sem “cadeados do amor” do que não termos uma ponte para
cruzar ou bater fotos. O povo de Jaguari que o diga.
Do
outro lado da ponte alguém pode esperar com um pêssego e um país, com uma
laranja em Jaguari ou com um cacho de uvas e Paris.
Escolha
as suas pontes e destrave os cadeados.
2 comentários:
Nunca deixei meu cadeado em Paris, apesar de ter me prendido na Shakespeare.
Saudade docê.
Andressa - Molly Capixaba - Bloom.
Olá. Legal te ver por aqui. Gracias pelo comentário.
Pronta para o Bloomsday?
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