Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Eu não sei quantos 27 de janeiros ainda
teremos por clamar por justiça. Nós – o povo e adjacências – temos uma certa implicância
com a morosidade do judiciário. As causas se prolooooooongam... mas temos que
acreditar porque ela não falha.
Uma certeza é evidente: teremos uma
eternidade de 27 de janeiros para celebrar a vida. Nesses quatro anos da tragédia Santa Maria já
chorou todas as lágrimas possíveis e ainda chorará por anos a fio as lágrimas
remanescentes porque a saudade é uma companheira que tem a capacidade de ser
uma companhia cruel e, ao mesmo tempo, doce em suas lembranças.
Um dado que jamais esqueci e que revela
muito o tamanho da tragédia estava numa reportagem há quatro anos. Computando a
expectativa de vida dos jovens que estavam na boate, naquele 27 de janeiro,
foram ceifados 10 mil anos. É de difícil compreensão. É incomensurável.
No âmbito da tecnologia estamos vivendo
uma revolução. A informática veio para quebrar todos os paradigmas. Não somos
mais os mesmos e não é por nos banharmos duas vezes no mesmo rio. Mas na vida
real vivemos a Era da barbárie ou quase isso. A vida está valendo pouco nos
violentos centros urbanos e menos ainda nos diversos “Alcaçus” esparramados
pelo país. Existe pessoas que comemoram a morte e outros comemoram a doença
simplesmente por uma divergência ideológica. E a gente fica sem saber o que
dizer. Estamos perdendo a capacidade de evoluir para sermos cada vez mais
humanos. Podemos dizer que a teoria da evolução atingiu sua máxima histórica. O
gráfico está num estágio descendente. Precisamos, urgentemente, de adquirir
cotas de humanidade. Cotas de solidariedade para gostar mais das coisas simples
que a vida nos proporciona. Se arriscar numa poesia, num óleo sobre tela, num
clique em preto e branco ou num chamamé em um fandango sem medo do mico.
Quando lemos que a fortuna de oito pessoas
é igual a fortuna dos outros 3.600.000.000 de humanos mais pobres, concluímos
que tem alguma coisa errada nesse planeta chamando Terra.
Continuamos orando pelas jovens vítimas da
Boate Kiss, pois queremos que os familiares e amigos, que aqui ficaram, sigam suas trajetórias com paz
e serenidade para enfrentar a saudade e a ausência. Mas também desejamos um
mundo mais humano e solidário. Talvez num mundo mais humano a gente não precise
clamar tanto por justiça.
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