Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Nos últimos meses tive que aprender alguma coisa a mais sobre
o Barão de Itararé. Era uma figura bem descolada do convencional. E fico
imaginando o que faria numa conjuntura de hoje a pena ácida de Apparício
Torelly.
Também lembrei de uma passagem da sua biografia quando ele
foi convidado para permanecer no internato e seguir carreira eclesiástica. Eis
a resposta do Barão.
– Eu nunca pensava naquela possibilidade. Não sou apóstolo.
Meu apostolado é do lado oposto.
Lembrei dessa frase ao ver alguns comentários acerca da
decisão dos senadores quando, em votação aberta, livraram o Aécio Cunha do
“repouso noturno” e deliberaram pela volta ao senado.
E as panelas? Cadê os paneleiros?
Sabe, isso é o que menos me preocupa. Entendo que eles foram
os vencedores nessa etapa. O que me preocupa é a falta de reação. A inércia dos
indignados é que me deixa extremamente apreensivo. Reduzindo o raciocínio: quem
bateu panela está assistindo a “Força do querer”. E entendo que não podemos
transferir essa responsabilidade para quem bateu panela. Essa incumbência é
nossa. Como bem disse o Barão, “meu apostolado é do lado oposto”. E é aí que a
porca torce o rabo. O lado oposto está totalmente a mercê dos acontecimentos.
Incapaz de propor uma reação. Um contraponto. Claro, temos vozes heroicas nos
parlamentos e na sociedade, mas “o lado oposto” está, parece-me, jogando milho
aos pombos. O avanço da extrema direita antidemocrática é, justamente, pelo
recuo do lado oposto. Esse espaço não fica vazio...
E só tem uma solução: colocar o povo na rua. Não existe outra
possibilidade. Não foram só as panelas que derrubaram a Dilma. Tinha muita
gente nas ruas. A tarefa de colocar o povo nas ruas é hercúlea, pois o marasmo
é acachapante, mas é o que temos. Se alguém tiver outra solução...
Logo estaremos em 2018 e seremos chamados a votar para
presidente. Vamos exercer nossa cidadania com o voto. Eu não temo a vitória de
um candidato homofóbico, racista, misógino, reacionário, etc, etc, etc. acho
que não vinga. O maior problema seria o voto na segunda opção: para nos
livrarmos de uma figura excêntrica, termos que votar num tradicional neoliberal
para garantir a democracia brasileira.
Ah! Por que tive que aprender sobre o Barão? Na próxima
sexta-feira assumo uma cadeira na Academia Santa-Mariense de Letras. Cujo
patrono é o Barão de Itararé. Será às 19h. Todos os amigos estão convidados.
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