Não
tenho mais ídolos.
Todos
os meus heróis ficaram na década de 70 do século passado. Tive ídolos no
esporte – futebol –, e, por óbvio, atletas do Internacional.
Fora
isso, tenho admiração por personalidades em outras áreas. Mas, apenas, apreço e
respeito. Evidentemente, alguns deles nem apreço restou.
Na
literatura, por exemplo, tem muita gente boa fazendo coisas interessantes. São
dignas de merecida atenção. Na política minhas referências tornaram-se meras decepções.
Um ou outro merece um pingo de admiração. Um que outro algum reconhecimento. Tornei-me
um cético.
Melhor
voltar ao esporte, que é o intuito desta crônica, no caso o futebol nos anos
70. Especificamente o Sport Club Internacional e um de seus maiores ídolos.
O
meu primeiro ídolo foi Bibiano Pontes. Eu era um gurizote que jogava na zaga do
infantil do Maneco e Pontes jogava de zagueiro no Internacional. Bibiano Pontes
era o cara. Mas esta idolatria durou muito pouco, com a chegada de um certo chileno
que recitava Pablo Neruda, este passou a ser o grande ídolo de uma geração de
colorados que viveu sua adolescência nos anos 70 aqui no Rio Grande de São
Pedro. Figueroa me ensinou a jogar com os cotovelos. E a ser expulso do campo em várias oportunidades.
Mas a lembrança mais gloriosa que temos do craque é o título de 1975. Impossível
esquecer o Gol Iluminado, ano em que o Brasil fora pintado de vermelho. O time
da década!
Costumo
dizer que Figueroa está para a minha geração assim como D´Alessandro e Fernandão
estão para a juventude que comemorou as duas Libertadores e o mundial no Japão
nos anos 2000.
E
por estas casualidades da vida estou num ônibus de excursão viajando de
Santiago do Chile para Val Paraiso. E, claro, no meio do caminho havia um ponto
de vendas de vinhos. No Chile? Não é novidade. Mas sendo a loja de Don Elias
Figueroa a coisa muda “da água para o vinho” literalmente.
Para
deleite dos colorados da excursão, o Figueroa estava na loja naquela tarde.
Ele, a esposa e o filho.
Como
escrevi, lá no início, meus heróis ficaram na adolescência num ano perdido na
década de 70. E um dos meus heróis estava ali, a poucos metros. Na minha
frente. E dando as boas-vindas para uma turma de brasileiros recém-chegados no
Chile.
O
grupo conversou com ídolo. Batemos fotos – muitas fotos – e pegamos autógrafos
nos rótulos das garrafas de vinho e em postais com a estampa do ídolo.
Toda
a família Figueroa é cordial e extremamente simpática. E a impressão que tive é
que Don Elias continua sendo um “coloradaço” de raiz. O cara é supergente fina.
Um encontro passível de transbordar emoções. O filho do Figueroa tem a
capacidade de proporcionar emoções diante do pai.
Quando
me enrolei numa toalha vermelha – eu não tinha uma bandeira – e fui comemorar o
título de 75 na Praça Saldanha Marinho, eu não imaginaria que após 45 anos da
conquista, eu estaria proseando com o ídolo diante de uma taça de vinho. Num
bate-papo informal.
Uma
oportunidade única e inesquecível. Inclusive os gremistas da excursão se
emocionaram.
Enfim,
podemos dizer que ídolos são perenes. Claro, aqueles que sabem cultivar a idolatria.
Don Elias é um desses.
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