sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

Marx no colégio militar

Athos Ronaldo Miralha da cunha

 

Ser convidado para participar de um encontro literário é motivo de orgulho. Não deixa de ser um reconhecimento pela trajetória nada glamorosa de quem disputa a “Série C” do campeonato da literatura. Esses bate-papos são sempre enriquecedores.

Assim, recebi o convite para ser um dos painelistas na 3ª Semana Literária do Colégio Militar de Santa Maria. A conversa seria com alunos do ensino médio. E o tema proposto para o painel dava pano para muitas mangas “A arte de escrever: a importância de leitores e escritores para o desenvolvimento da literatura. Como começar a escrever a primeira página”. A primeira impressão é de espanto. Um grande susto diante da pomposidade do título do evento. Precisava rever, urgentemente, minhas prosopopeias. Mas, aos poucos, a gente vai se acalmando. O monstro se amansa e a ansiedade regride e percebemos que o tema é excelente para conversar com alunos atentos e exigentes.  

Preparando o meu improviso resolvi que deveria mencionar Marx.

Uma baita oportunidade de colocar Marx dentro do Colégio Militar. Newton Cruz e Ernesto Geisel dariam voltas na tumba, pensei. Mas encasquetei com este propósito. Precisava de um Marx que fosse palatável para alunos de uma escola militar. Um daCunha, de escorpião e nascido nas Missões, quando mete uma coisa na cabeça. Deixa quieto...

Estava arquitetado o meu maior ato de rebeldia desde o dia em que me confrontei com um sargento do Exército Brasileiro em frente do prédio da InterAmerciana na UFSM no longínquo ano de 1979 –, mas isso é outra história. Mas adianto: ele se tornou capitão... Nascimento.

Nos últimos 20 anos seria a minha mais contundente atitude revolucionária. E eu não iria me decepcionar. Afinal de contas, meu coração é vermelho. Fiz a barba e cortei o cabelo, o mais cadete possível dentro do razoável.

Me travesti de Lamarca – ou Marighella – e me fui... um genuíno revolucionário. Marx no colégio militar!

Fui para o São Google e catei citações de Jorge Luis Borges, Emile Zola, José Saramago, Sergio Porto – Stanislaw Ponte Preta – e, logicamente, Marx. O ápice de minha abordagem. Coloco abaixo a citação de Marx.

“Do momento em que peguei seu livro até o que larguei, eu não consegui parar de rir. Um dia, eu pretendo lê-lo.”

Groucho Marx.

 

Recebi aplausos efusivos da garotada. Saí de alma lavada do encontro. E Lamarca corcoveou na tumba. O Marighella não deve ter dado a mínima.

E eu ainda almejo entrar no G4 da “Série C” do campeonato da literatura.

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