terça-feira, 9 de março de 2021

Matungo torto

Athos Ronaldo Miralha da Cunha


Não sou matungo e ainda não sou torto, mas sou mais desconfiado do que matungo torto.

Porque hoje foi impactante. Espichei a sesta um pouco além da conta e acordo com a notícia bombástica de que os “processos de Lula” foram cancelados – para usar uma palavra da moda – pelo ministro Edson Fachin. O povo de Curitiba não tinha competência para julgar.

Como assim, cara-pálida? Pelo visto eu acordei da sesta e o ministro acordou do coma.

Só agora foi percebido pelo STF o tal descalabro do julgamento. Quantos anos, mesmo?

Não quero entrar no mérito da questão, mas todo esse tempo de julgamento e tudo não valeu nada. E nós nos emocionamos em vão. Brigamos com os parentes. Xingamos os colegas. Nos tapeamos pelo Facebook. E tudo isso para nada? Qualé broder!

Quanto dinheiro público foi gasto para o ministro receber um facho de luz e dizer que está tudo errado.

Aí numa decisão monocrática – canetada – vem e diz. O juiz de Curitiba queimou a largada. Temos que começar tudo de novo. Só falta fazer arminha para essa nova largada.

Quem devolve o tempo de Lula? Como mensurar as noites maldormidas? A ansiedade. A solidão. E o convívio familiar. Lula estava cumprindo a pena de um julgamento que estava fora dos padrões jurídicos.

Esse ministro chegou atrasado e, pelo visto, aliviou geral. Mas nessa história toda sai o STF mais chamuscado. Como é que a mais alta corte deixa acontecer um julgamento incorreto. Onze ministros e só agora um deles veio a público e acabou com a ladainha curitibana. Por que não estou surpreso?

Quem sou eu – um palpiteiro periférico – para opinar sobre julgamentos e processos se nem os juristas se entendem.

Mas eu sempre lembro uma frase do então candidato a governador Olívio Dutra, quando perguntado sobre o cumprimento dos contratos.

Ele respondia: Serão cumpridos todos os contratos juridicamente perfeitos e socialmente justos. Me parecia uma postura sensata.

Penso que cabe nesse episódio dos “processos de Lula”. Não estavam juridicamente perfeitos e não eram socialmente justos. Calma, que tem recursos... Mas o tempo de cárcere ninguém repõe. Não tem como estornar esse tempo perdido.  Claro, Lula não foi absolvido, será julgado em outro plano, outra esfera, sei lá, me confundo no juridiquês. Mas terá outra turma julgando o Luiz Inácio.

Esse país é uma república do carteiraço e da canetada. Se você não tem uma carteira e não tem uma caneta, sinto muito, você está fora do espetáculo.

Você está fora do estádio. Ouve o barulho da torcida comemorando, mas não sabe quem fez o gol.

Como desconfiado na enésima potência busco no Aparício Torelly uma explicação.

“Há algo no ar além dos aviões de carreira”.

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