sábado, 24 de julho de 2021

Faixa vermelha

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

 

Já faz algum tempo, muito tempo, mas eu fui praticante de Taekwondo e cheguei até a faixa vermelha... ponta preta.

Treinávamos no subsolo da USE – União Santa-Mariense de Estudantes – um prédio inacabado na rua do Acampamento e tínhamos como instrutor um coreano chamado Mestre Kim. Kim lá na Coreia deve ser algo como o Silva aqui no Brasil. Naquele tempo ele era o cara. Se autointitulava faixa preta 6º dan. Também aprendi a manejar o nunchaku. Eu mesmo fiz o meu com um cabo de vassoura.

Traduzindo tudo isso aí em cima: eu era metido, mas não era afoito. Nas saídas do DCE ou de um cineminha eu voltava a pé para casa, sem antes comer um Xis no Tareko em frente ao Hospital de Caridade. Mas caminhar pela Fernando Ferrari à noite no final dos anos 70, início dos 80, não era para qualquer um. Era uma rua – na prática ainda não era avenida – mal iluminada e sem calçamento. Voltava sempre desejoso que algum incauto viesse me assaltar. Eu sentia uma pena antecipada do assaltante. Naqueles tempos não havia a recomendação de não reagir a assaltos. Mas nunca ocorreu. Aliás, nunca utilizei minhas habilidades nas artes marciais fora da sala de treinamento. Uma vez lá na Mata – num fim de baile –, um gaúcho macho fez uma “gracinha” para uma amiga e quase me tirou do sério. Mas a turma do “deixa disso” acalmou os ânimos.

Com essa onda de insegurança que assola nossas cidades nos dias de hoje, eu sinto falta daquela autossuficiência que tinha para resolver alguma pendenga.

Hoje, nem pra faixa transparente eu sirvo. Na semana passada fui mostrar meus conhecimentos com o nunchaku e arrumei um galo na testa.

Enfim, meu coração é vermelho palpitante e já fui faixa vermelha. E para chegar na faixa vermelha tem que passar pela amarela e pela verde. A minha “vermelhice” é política, esportiva e etílica e vem de longe: desde 1909.

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