Athos Ronaldo Miralha da Cunha
A histórica fotografia foi postada
nas redes sociais pelo ex-presidente Fernando “Minha Gente” de Melo. Toda a
turma de ex-ocupantes do Palácio do Planalto na aeronave presidencial rumo ao
sepultamento de Nelson Mandela na África do Sul.
Todos sorridentes: Dilma, Collor,
Sarney, FHC e Lula. Mas o que conversaram os nobres brasileiros? Será que
conversavam sobre os tempos em que Sarney era da Arena e Lula um sindicalista
estilo “hoje eu não estou bom”? AI 5? Será que a conversa foi sobre aparelhos
de som, pois em 1989 Collor sonhava ter um aparelho 3 em 1 igual ao de Lula? Fiat
Elba? O assunto foi impeachment? Privatização? Emenda da reeleição de FHC? Será
que a senhora presidente contou alguns dos seus sonhos juvenis sobre a
guerrilha? Sendo o Lula o único futebolista da lista, é bem provável que nem sobre
futebol conversavam. Orçamento das obras da copa, nem pensar.
Os assuntos pululavam nas mentes dos
viajantes, mas ninguém iniciava a conversa. O silêncio já estava constrangedor
e Sarney foi quem quebrou o gelo. – Será que chove hoje?
A partir de então, Collor quebrou o
gelo e se serviu de uma generosa dose de uísque. Os demais preferiram caubói e
Sarney água mineral sem gás.
Percebendo que a coisa poderia tomar
um rumo incontrolável, Dilma propôs uma rodada de canastra para passar o tempo.
– Vocês conhecem o canastrão?
Os ex-presidentes se entreolharam e
sorriram amarelo. Mas toparam participar do jogo.
Dilma deu as cartas. Aliás, em todas
as rodadas durante o voo era Dilma quem dava as cartas. Os demais obedeciam
complacentemente.
– Por gentileza, companheiro Collor,
agora gostaria com bastante gelo.
FHC balançou a cabeça em sinal de
desaprovação, mas nada comentou e Sarney fez uma cara de “me poupe”. Duas ou
três rodadas e, novamente, um absoluto silêncio. Todos concentrados nas cartas.
– Quem bate pega o morto! – falou, de
pronto, a Dilma.
Em seguida pediu desculpas pelo ato
falho. Afinal, eles estavam indo para um velório. Mas Dilma seguiu dando as
cartas.
– Bati! – e já colocou a mão no
morto. – Eu sou ligeiro nas cartas.
– Grande África – falou Sarney
tirando um ditado do fundo do baú.
Nesse momento Collor propõe que eles
jogassem rouba monte. Rouba monte era uma brincadeira de infância lá nas
Alagoas.
– Montanhas, hein Collor? – retrucou Sarney.
– Então vamos jogar buraco. Era o
carteado preferido lá na USP.
– Buraco? Quem sabe rombo? – Sarney estava
espirituoso.
Lula foi mais perspicaz antes que a
coisa desandasse e sugeriu.
– Vamos jogar conversa fora. Nossa especialidade
lá no ABC.
Assim, a viagem seguiu tranquila. Todos
jogando conversa fora.
– Companheiro Collor, agora sem gelo.
3 comentários:
Muito bom. Acho que a conversa não deve ter sido muito diferente... Um fraternal abraço ao amigo - Wilson Viana.
Grato pela leitura. Abraços.
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