Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Sou da opinião que para melhor conhecer
uma cidade devemos caminhar. Caminhando pelas ruas sentimos o cotidiano e alma
do lugar e dos cidadãos. Belém do Pará – nós, gaúchos e colorados, sempre
lembramos do Claudiomiro* – é uma cidade acolhedora, belas paisagens e prédios
históricos de uma época mais glamorosa. São muitos, mas o teatro da Paz é
imponente e o cais do porto totalmente revitalizado. Em Belém do Pará as gurias
são charmosas quando dançam o carimbó. Tanto quanto as gaúchas num bailado de
uma vanera ou uma castelhana dançando um chamamé. Nessa semana andei muito
pelas ruas e ruelas e conheci a cidade, já me considero um pseudobelemense.
Outro dia, ao cruzar em frente ao prédio
da OAB-PA, estava lá uma longa faixa com letras garrafais de um tema que nós,
gaúchos – e a maioria dos brasileiros –, desconhecem. Uma faixa impactante em
caixa alta “ATÉ QUANDO OS ADVOGADOS SERÃO ASSASSINADOS POR PISTOLEIROS NO
PARÁ”. Tive que bater duas fotos para compor a faixa completa. Isso ainda
existe num Brasil que está distante do STF e dos demais poderes constituídos.
Uma luta silenciosa e inglória nessas longínquas florestas.
Numa manhã dessas estava descendo a
avenida Assis de Vasconcelos em direção ao rio, onde rumaria para o mercado Ver-o-Peso, cruzei por uma rua chamada Ó de Almeida. Pombas! Ó de Almeida? Fiquei
pensando, alguma coisa estava errada na rua. Ô Almeida! Que história é essa de
Ó de Almeida. Se é Ó teria que ser de Olmeida ou seria A de Almeida. Mas também
não fiquei divagando muito por conta desse provável erro. Isso era um problema
do Almeida e seu Ó. Continuei minha caminhada. Num poste de luz poucos metros
da outra esquina, um cartaz anunciava o concurso público do Tribunal Regional
Eleitoral do Pará. TRE-PA. Mas esses belemenses estão de brincadeira... seria
um convite ou uma denúncia?
Antes de chegar na esquina da rua
senador Manoel Barata, uma senhora atravessa e pede uma informação. Nesses brevíssimos
instantes imaginei que tipo de informação seria: onde fica a catedral diocesana
de Santa Maria, quem sabe a vila Belga ou a rua do Acampamento ou o ônibus para
a UFSM. Viagem minha, lógico, uma senhora em Belém jamais pediria tais
informações. Então eu disse, pois não!
– O senhor saberia me dizer onde fica a
rua Ó de Almeida.
São essas incríveis ironias que me
deixam sestroso. A única informação que eu poderia prestar era justamente essa:
onde fica a rua Ó de Almeida. Se ela perguntasse o hotel onde estava hospedado
eu teria dificuldade em responder, mas a rua Ó de Almeida, essa estava encravada
na minha mente. Naquela esquina conversei um pouco com a dona Maria Quitéria...
ela era o maior barato.
Segui minha caminhada como um escoteiro
que prestou a boa ação do dia.
Chegando no mercado público presenciei
um larápio furtar um colar de uma outra senhora. Tudo instantâneo e muito
rápido. Um grito, correrias e tudo volta ao normal em segundos.
E eu fui ver Ver-o-Peso e não achei
nenhuma balança para ver o peso. Coisa de paraense.
* Claudiomiro, para quem não sabe, foi
craque do Internacional no início dos ano 70 e falou, certa feita, antes de um
jogo contra o Paissandu, que se sentia muito feliz em jogar na terra que Jesus
nasceu.
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