Athos
Ronaldo Miralha da Cunha
Ao vermos
as imagens do cinegrafista Santiago Andrade sendo atingido por um rojão ficamos,
profundamente, consternados. É impossível permanecermos indiferentes diante da televisão.
Um cidadão no exercício de sua profissão sendo covardemente assassinado. Então,
nos perguntamos: qual o rumo das manifestações no Brasil?
Esse episódio
me fez lembrar um outro assassinato – nos tempos em que os militares mandavam e
desmandavam – que causou uma consternação em todo o país. O estudante
secundarista Edson Luís foi assassinado num confronto com a polícia
no restaurante Calabouço no centro do Rio de Janeiro em março de 1968. Não podemos
fazer uma correlação – ipsis litteris – porque são épocas, condições e sonhos diferentes.
Mas o que iguala esses dois assassinatos é, justamente, um confronto entre
manifestantes e polícia. Em 68 um policial dá um tiro certeiro no estudante. Em
2014 a ação mortal parte de um manifestante. Na década de 60 foi o ponto
inicial para a ditadura encrudelecer e criar o AI5.
E em
2014? O que está por vir? Não acredito em retrocesso, embora incipiente nossa
democracia tem características estáveis – salvo alguns retardados à esquerda e
à direita que não desejam – e está sedimentada em pilares republicanos.
Algumas
das causas desses radicalismos passam por um recuo de uma esquerda que sempre
esteve nas grandes manifestações e hoje está reclusa. As incertezas ideológicas
e radicalismos nas manifestações estão ocupando um vácuo deixado pelo recuo
dessa esquerda que já esteve nas ruas em outros tempos. E no campo ideológico ninguém
fica em impedimento, não existe espaço vazio.
O agravante
nesse imbróglio é a Copa do Mundo. O grande evento que será motivo de novas
grandes manifestações. É legitimo que haja. Qual militante social perderia essa
oportunidade? O que não podemos
compactuar é que cada manifestação torne-se uma praça de guerra. Nesse caso o
estado deve garantir a ordem democrática, o direito de ir e vir e se expressar.
Ah! Mas
e os vândalos radicais? Permanecerão radicais em seu gueto e se for o caso no xilindró.
Espero
que durante a Copa os democratas – da nossa estável democracia – não criem empecilhos
aos manifestantes sacando da manga uma lei que criminalize as manifestações e
que a policia reprima violentamente – como em outras eras – pelo aparato
repressor do estado a voz das ruas. Pois quem lutou por liberdade e democracia
continuará lutando por liberdade e democracia, não é mesmo?
Se a
morte de Edson Luís foi uma comoção para o Brasil num grito de democracia e
liberdade, a morte de Santiago invoca o mesmo sentimento: queremos liberdade de
imprensa e o direito de gritar nas avenidas com os punhos cerrados, mesmo que
um senador do PT não pense assim.
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