Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Ao chegar ao hotel, em frente ao mar de
Copacabana, fui muito bem recebido pelos atendentes. Diga-se, bem demais.
Como todo bom carioca, pessoas
educadíssimas no trato com os turistas. Apressavam-se em abrir as portas do
elevador, ofereciam cafezinho, cumprimentavam com esmero, muita delicadeza e
presteza. Mas todo esse tratamento exacerbado tinha uma explicação.
Lá pelo terceiro ou quarto dia um dos
atendentes chegou pedindo desculpas e perguntou se eu era pastor. Por alguns
instantes fiquei meio apreensivo, pois uma estampa de pastor não é o perfil que
imaginaria para mim. Mas em poucos segundos deduzi o motivo da pergunta. O
rapaz olhava constantemente para um botton na lapela do blazer.
Uso regularmente a Cruz de Caravaca, Cruz
de Lorena ou, como conhecemos aqui por essas bandas, Cruz Missioneira. Aquela
com dois braços. Comprei esse botton quando visitei as ruínas de São Miguel nas
Missões. Um lugar mítico, muita energia vinda do passado. Um lugar que nos
coloca em reflexão. Passeio fundamental para quem é oriundo das Missões ou para
qualquer brasileiro que se interessa pela história.
Na lapela do meu casaco eu faço um rodizio
de bottons: Cruz de Caravaca, taça do mundial, mascote do Inter e o pin de
prata da Caixa para eventos corporativos. Devo confessar que minha lapela já
foi bem mais política, mas hoje não vejo motivos, acho que o desencanto é
maior. E na lapela do blazer tem prioridade a Cruz Missioneira.
Naquelas férias no Rio de Janeiro foi a
primeira vez que a minha pouca fé não passou incólume pela cruz que, eu imaginava,
identificava tão somente a minha origem. A Cruz de Lorena me promovia a pastor.
A segunda vez que fui promovido a pastor foi em Ouro Preto ao visitar umas das
igrejas históricas da cidade. Lá o guia perguntou se eu era padre. Um padre com
esposa e dois filhos... Respondi, apenas, que a cruz era o meu certificado de
origem. Tipo vinho, sabe? Eu não era missionário, e, sim, missioneiro. Região das
Missões do Rio Grande do Sul. Me identifico com a região das Missões, tenho uma
atração pela cruz de dois braços, acho de uma beleza singular. Emana poder e
luta. Algo “essa terra tem dono”.
Então, a Cruz de Caravaca está sempre na
lapela e, mais recentemente, uso um chaveiro que comprei num lojão do centro. O
uso da cruz pode ter sido influência de um ex-governador metido a galo. Quem sabe!
Só tem um pequeno detalhe: eu sou um falso missioneiro. Nasci em Santiago do
Boqueirão, ali do ladinho das Missões, mas o Baita Chão não faz parte das
Missões. Mas é como se fizesse. É como eu me sinto: um missioneiro. No entanto,
o meu certificado de origem é falso, aliás, como alguns vinhos.
Eu sou um Missioneiro Fake. Com muito
orgulho. A Cruz de Caravaca continua no blazer. Nem que em alguma circunstância
eu tenha que fazer uma benção. Aleluia irmão!
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