Apertei o botão do elevador e aguardei. Nem
percebi que não havia luzinhas acesas indicando sobe ou desce. Não estava
apressado e admirava a decoração retrô do hall do prédio. Imaginei a década de
40. Legal isso aqui. O edifício é antigo e infelizmente malcuidado, mas a
entrada é bem interessante.
Devido à demora, surgiu um funcionário do além
– estava uniformizado com o blazer e um quepe da firma terceirizada – e apertou
o botão freneticamente. Mais um tempinho de espera e novamente o funcionário
aperta, desta vez mais irritado, o botão do elevador. Xingou alguém pelo vão da
porta.
Eu é que não vou interferir nas neuroses das
pessoas, pensei. E fiquei bem na minha.
Antes que eu falasse que não adiantaria
reclamar com o elevador que ele não viria na base do berro. E nem ficar
apertando o botão insistentemente que o dito não viria mais rápido.
– Esse novo colega é muito lerdo. Uma lesma. Um
dorminhoco.
Continuei sem saber o que estava havendo. Mas
minha dúvida durou pouco tempo. Ruído de alavanca e em seguida barulho de porta
pantográfica.... E o acesso ao elevador está liberado.
Entrei.
O ascensorista fecha, manualmente, a porta do
andar e a porta pantográfica do elevador. Me senti nos anos 40 ou 50 do século
passado. Se bobear o Getúlio aparece, como por encanto, em algum corredor.
Qual o seu andar? – pergunta. E ficou
assobiando uma música de uma nota só.
– Oitavo.
Ruído de alavanca, porta pantográfica e
subimos. Entre os pisos, nas lajes, o número de cada andar.
Percebi, então, que quando se aperta o botão
aciona-se uma campainha e o ascensorista sai à procura do andar em que está a
pessoa. Precisão auditiva de última geração.
Estava indo visitar um amigo que tinha o
escritório nesse prédio na Cinelândia no Rio de Janeiro. Cumprimentei já
elogiando a alta tecnologia do elevador. O Brasil numa ponte para o futuro.
Brinquei.
– Então quando descer pergunta para o seu
Ariosto como ele sabe quando tem alguém a espera quando está no sobe e desce do
elevador. Aí tu vais ver o que é tecnologia.
Conversamos e botamos alguns assuntos em dia. E
tomamos um cafezinho.
Na descida, é claro, perguntei ao seu Ariosto
como ele sabia quando alguém estava a espera no andar. Já que a campainha não
identificava.
– Eu vou cuidando entre o vão da porta e o piso
de cada andar. Se vejo uns pés eu paro – e continuou o seu assobio de uma nota
só.
Precisão visual de última geração.
Chegamos no térreo. Puxa a alavanca para
trancar o elevador. Abre, manualmente, a porta pantográfica e a porta do andar.
Saio profundamente nostálgico e entro no
primeiro café e peço um chá com torradas. Não, acho que vou beber parati.
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