quinta-feira, 6 de fevereiro de 2020

Anita e Olga


Conhecemos Anita como uma mulher destemida e revolucionária. Guerreira e libertária, uma pessoa adiante de seu tempo. Anita Garibaldi símbolo de liberdade.
Mas, por enquanto, eu gostaria de falar sobre outra Anita. Ela mora aqui em casa. É inquieta e, imagino, muito independente. A Anita aqui de casa tem quatro patas e é agitada e alarmista. Extremamente escandalosa. Se vamos passear ela bota a boca em qualquer quadrúpede, bípede ou sei lá quantas patas tiver o vivente que passar pelo seu caminho. É metida e invocada. Penso que é bem parecida com a Anita – a humana.
Nos últimos tempos ela fez amizade com alguém da mesma espécie que mora do outro lado da rua, na quadra seguinte. Em alguns momentos conversam animadamente e cruzam as noites em altos papos – por vezes os papos são, literalmente, altos – e cada uma em seu portão. Mas eu acho que em outras situações elas brigam e o xingamento é de parte a parte. O nível baixa como se elas tivessem polemizando no Facebook sobre o tríplex do Lula. 
Eu não me importo que ela tenha amigos na redondeza e emita suas opiniões na cerca da casa, acerca de qualquer assunto em alto e muito elevado bom som.  Mas precisava ser nas altas horas? Durma-se com uma discussão dessas!
Na noite passada eu tive a nítida impressão que ouvi um xingamento tipo “Coxinha nojenta!” feito pela Anita e, de pronto, uma resposta “Petralha analfabeta!” vinda da amiga lá da outra quadra, mas foi só uma impressão minha. Desconfio – apenas desconfio – que entre elas há uma divergência tipo PSDB X PT.
Anita é muito inserida e espaçosa. Ela só não entica com a Olga. A Olga ela respeita, o furo é bem mais embaixo. A Olga tem uma habilidade grande com as mãos. Acho que ela possui alguma noção de artes marciais. E dá cada arranhão na Anita. A Olguinha não se mixa.
Ah! A Olga é a gatinha da casa. Silenciosa, calma, mas muito senhora de si. Muito diferente de uma outra Olga que como a Anita era “faca na bota”. Ambas revolucionárias e destemidas.
Agora que cheguei ao final da crônica fiquei na dúvida se escrevi sobre a cachorra e a gatinha que habitam essa casa ou sobre duas mulheres guerreiras.