Desço do carro – arrependido e com saudades da
cama – e entro na primeira loja que cruza em minha frente. Olhei a estante
escura, mas não foi do meu agrado. O vendedor falou que tinha na cor branca.
Negócio fechado com a cor branca, sem muito
lero-lero e nhenhenhém.
O atendente gostava de prosear e o assunto
enveredou, claro, para os livros e literatura. Para responder a pergunta sobre
o tipo de leitura que gostava eu fui bem sucinto: ficção e política.
– Esquerda ou direita? – perguntou de
supetão.
– Mais à esquerda – respondi sem muita
convicção diante do inesperado da pergunta.
Fez uma cara de espanto. Como se estivesse em
sua frente uma espécie em extinção. A impressão que imaginei ter causado foi
desfeita quando falou que fora militante comunista em São Gabriel. Agora foi a
minha vez de fazer cara de espanto. Vamos combinar que ser comunista na Terra
dos Marechais há vinte ou trinta anos não era uma tarefa das mais fáceis.
Deveria ter muito maragato por lá, mas o que coincidia era só o vermelho da cor
do lenço. O resto, nada. Aqui na cidade era, apenas, um trabalhador. Mas
tínhamos alguns conhecidos em comum. Comunistas, claro. E mais alguns que
perderam a convicção nesses anos todos.
Trocamos algumas ideias sobre a esquerda ou o
que sobrou dela, divergimos, lógico, o cara ainda tinha resquícios de um
passado pré-muro de Berlim. Afinal, era um velho comunista. Mas foi uma
agradável conversa.
Saio da loja e me deparo com um vendedor
ambulante na calçada. Várias caixinhas com morangos. Morangos vermelhos, tão
vermelho quanto o lenço dos maragatos e a bandeira do Partido Comunista.
– São morangos do nordeste? – perguntei, e
comecei assobiar a música.
– São de Agudo – respondeu secamente.
Levei três caixas.
Cheguei em casa e fui saciar a minha vontade de
comer morangos de Agudo. Mas em todas as caixas havia morangos mofados. Um
salve ao Caio.
Restou, para mim, curtir uma soneca de final de
tarde. Friozinho e chuvinha fina lá fora.
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