quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Laranja de bolso


Lendo sobre o furto de chocolates praticado por uma nobre vereadora de Esteio – vamos combinar que é o menor dos furtos praticados por um político , lembrei-me de algo que aconteceu comigo e não faz muito tempo, que também envolveu um mercado e um furto ou quase furto de uma fruta.
Uma colega leva frutas para o serviço e me dá uma laranja. O lanche da tarde sem carboidratos e com vitamina C. Mas resolvi que iria saborear a fruta em casa e coloquei a laranja no bolso da jaqueta. No meio do caminho, resolvi passar no mercado para comprar pão, leite e uma garrafa de vinho tinto, claro. Malbec dos hermanos. Quando passo em frente de uma montanha de laranjas me dou por conta que estou com uma no bolso da jaqueta. Entro em pânico. Imaginei mil e uma situações: o gerente perguntando “O que faz essa laranja em seu bolso?” e um guardinha me olhando com desaforo. Todo mundo na fila me chamando de ladrão. Um barbudinho com uma bolsa a tiracolo iria comentar: garanto que estava com a camisa da CBF nas passeatas gritando Fora, Dilma! Coxinha! Nem cumprimenta o porteiro.
Outros diriam: corrupto, só pode ser petralha! Pão com mortadela pra ele!
A coisa foi evoluindo e eu disse para mim mesmo: calma! calma! calma!
Mas o que faço com essa laranja? A primeira ideia foi colocar “de volta” na pilha das laranjas. Mas era um presente da colega. E eu não estava a fim de presentear o mercado com a minha saborosa e insignificante laranjinha de umbiguinho.
Resolvi deixar a laranja no bolso. Comprei pão, leite, o tinto argentino e mais uma dúzia de laranjas e fui para o caixa. Como estava falante com a atendente. O tempo. Lava-jato. Triplex. Roubalheira. Quando falei em roubalheira me lembrei da laranja no bolso. Então, para disfarçar comecei a assobiar o hino do Internacional e balbuciei um “Time grande não cai!”.
– O senhor é bem fanático! – falou, sorrindo.
Sou, mas agora é puro nervosismo! – pensei. E sorri de volta o mais amarelo dos meus sorrisos. Um sorriso alaranjado.
Senti um alívio quando botei o pé pra fora do supermercado.
Em casa, descasquei a laranja – sou capaz de descascar e deixo a casca inteira –, sou da opinião que só os idosos ou quase idosos conseguem essa façanha e saboreei uma suculenta laranja que quase furtei do mercado.

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