Lendo sobre o furto de chocolates praticado por uma
nobre vereadora de Esteio – vamos combinar que é o menor dos furtos praticados
por um político –, lembrei-me de algo que
aconteceu comigo e não faz muito tempo, que também envolveu um mercado e um
furto ou quase furto de uma fruta.
Uma colega leva frutas para o serviço e me dá uma
laranja. O lanche da tarde sem carboidratos e com vitamina C. Mas resolvi que
iria saborear a fruta em casa e coloquei a laranja no bolso da jaqueta. No meio
do caminho, resolvi passar no mercado para comprar pão, leite e uma garrafa de
vinho tinto, claro. Malbec dos hermanos. Quando passo em frente de uma montanha
de laranjas me dou por conta que estou com uma no bolso da jaqueta. Entro em
pânico. Imaginei mil e uma situações: o gerente perguntando “O que faz essa
laranja em seu bolso?” e um guardinha me olhando com desaforo. Todo mundo na
fila me chamando de ladrão. Um barbudinho com uma bolsa a tiracolo iria
comentar: garanto que estava com a camisa da CBF nas passeatas gritando Fora,
Dilma! Coxinha! Nem cumprimenta o porteiro.
Outros diriam: corrupto, só pode ser petralha! Pão
com mortadela pra ele!
A coisa foi evoluindo e eu disse para mim mesmo: calma!
calma! calma!
Mas o que faço com essa laranja? A primeira ideia
foi colocar “de volta” na pilha das laranjas. Mas era um presente da colega. E
eu não estava a fim de presentear o mercado com a minha saborosa e
insignificante laranjinha de umbiguinho.
Resolvi deixar a laranja no bolso. Comprei pão,
leite, o tinto argentino e mais uma dúzia de laranjas e fui para o caixa. Como
estava falante com a atendente. O tempo. Lava-jato. Triplex. Roubalheira.
Quando falei em roubalheira me lembrei da laranja no bolso. Então, para
disfarçar comecei a assobiar o hino do Internacional e balbuciei um “Time
grande não cai!”.
– O senhor é bem fanático! – falou, sorrindo.
Sou, mas agora é puro nervosismo! – pensei. E sorri
de volta o mais amarelo dos meus sorrisos. Um sorriso alaranjado.
Senti um alívio quando botei o pé pra fora do
supermercado.
Em casa, descasquei a laranja – sou capaz de
descascar e deixo a casca inteira –, sou da opinião que só os idosos ou quase
idosos conseguem essa façanha e saboreei uma suculenta laranja que quase furtei
do mercado.
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