A história é muito antiga. Sobre um
relacionamento que talvez tenha acontecido lá na década de 40 do século
passado. O relato interessante, pois não é todo dia que uma prostituta comenta
sobre os bonitos pés do cliente. No caso, meu pai.
Importante salientar que as minhas tias também
tinham a mesma opinião da prostituta – os pés do velho eram bonitos –, mas nos
encontros familiares nada se comentava. Isso, eu soube muito tempo depois.
Consta, também, que a mulherada do povoado
tinha interesse e curiosidade sobre se realmente os pés do meu pai eram lindos.
Elas enchiam as arquibancadas nos jogos de futebol de domingo. O velho jogava
de atacante do primeiro quadro e de goleiro no segundo. Todas interessadas nos
belos pés do craque. Tudo isso por conta do singelo e despretensioso comentário
de uma prostituta. O desapontamento era geral: no campo de jogo nunca ninguém
viu os pés do velho sem chuteiras e meias.
A bem da verdade eu não sei como surgiu essa
história. Como saber, depois de longas décadas, se uma prostituta havia
comentado sobre os pés de um cliente? Somente se o cliente contar para alguém e
essa pessoa repassar para os demais amigos, familiares e fofoqueiros em
geral. Dúvida que jamais será
esclarecida.
Se, realmente, uma prostituta elogiou os pés de
meu pai, deve ter sido no aconchego de uma tarde no catre e ele comentou com
amigos, em tom de brincadeira. E o assunto chegou nas rodas de pingas nos
botecos e nas rodas de mate-doce das tias – neste caso, tias mesmo –, irmãs do
meu pai. Devo confessar que nunca observei os pés do velho com a intenção de
avaliar sua belezura.
Se os pés de meu pai era tudo aquilo que
contam, por uma questão de DNA ou hereditariedade, os meus também devem ser bonitos.
Mas... essa história promete...
Vou dar um espaço para separar o relato em duas
partes.
Bom, até agora essa crônica é aparentemente
ficcional, fiquem tranquilos parentes. Tudo fruto de pensamentos borbulhantes
de quem não tem o que fazer. E precisa preencher as horas.
A bem da verdade, bonitos são os meus pés. Eles
foram elogiados e admirados uma única vez há muito tempo. Prostituta? Segredo
de estado.
Há quarenta anos, num veraneio no Passo do
Angico ali para as bandas de São Pedro do Sul, uma guria achou os meus pés
bonitos. Lindos... lindos... lindos de morrer. Fazer o quê, né? Gosto é gosto e
as opiniões devem ser respeitadas. E, naquela época, eu tinha um corpo atlético
e era faixa azul em Taekwondo. A guria era uma loiraça esbelta de abrir
caminhos nas águas do rio Toropi.
Enfim, eu não poderia escrever uma crônica “A
guria e os meus pés bonitos” ficaria sonsa, sem a mínima graça. E eu não
preciso ficar me autoelogiando num texto.
Então, se os meus pés são bonitos os do meu pai
também eram. Inseri o velho na história. E lá pelos anos 30 ou 40 do século
passado não seria uma namoradinha de portão que iria atentar nos pés do
pretendente. Assim, coloquei o velho na
zona do meretrício e uma personagem prostituta para apimentar a história da
família. E aí surgiu esse belo título “A prostituta e os pés de meu pai”. A
crônica ficou mais tensa, mais densa e bem-humorada. E os meus pés, depois de
tantos anos, novamente bonitos.
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