Gosto de praia.
O litoral me fascina e a imensidão das águas
ajuda e induz a reflexão. Aprecio por demais o entardecer avermelhado e um ventito do oceano nas melenas.
Mas a minha relação com o mar é bem amistosa.
Ele lá na dele, no vai e vem das ondas, e eu aqui na areia no vai e vem da cuia.
Nos respeitamos mutuamente. O máximo que faço é caminhar na orla e molhar os
pés.
Neste quadro o mar tem o predomínio de minha predileção,
mas é fundamental para compor essa paisagem um céu azul, areia, dunas, uma
avenida e prédios. Trocando os prédios por verde também fica muito bom. 100%.
Estou na areia. Chimarreando contemplo o mar e
medito diante da cuia. Essa manhã deveria ser perfeita e tranquila com sol e
mar calmo. E mulheres bronzeadas.
Deveria...
Devido ao sem fim de vendedores ambulantes devo
ter respondido outro sem fim de “Não, obrigado!”. Mas os vendedores foram os
menores dos problemas.
Uma turma chega e toma conta de uma área da
areia. Um toldo. Calculei uns 9 metros
quadrados. E logo em seguida a bela jovem do fio-dental verde ligou uma goeluda
caixinha preta de som. Axé. Axé. Axé.
Mas o que é ruim pode piorar.
A esquerda e um pouco mais afastada uma família
se aproxima e vislumbro o mesmo modelo de caixinha preta. Ouvi um grito “Que
tiro foi esse?”. Levei um baita susto, mas logo vi que era a música [sic] que
saia da goeluda caixinha preta. E funk pré-escola ribombou na praia a todo
vapor. E alguém falou em Jojo Todynho que eu nem sabia que existia.
Sirvo mais um mate e lembro da minha avó: os
incomodados que se retirem.
Desmontei o acampamento e me afastei uma
distância tal em que o barulho do mar fosse maior que o axé/funk.
Vou servir mais um mate e quem ronca é a
térmica. Foi-se a água. Agora não tem jeito, comprei uma caipiroska de maracujá.
Retomei a leitura do “Rinha de gatos – Madri 1936” de Eduardo Mendoza.
– Vai uma caixa de som aí moço?
– Não, obrigado!
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