Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Numa cidade do interior do Rio Grande do Sul o prefeito se
dirige ao caixa da livraria para adquirir um exemplar do livro a ser
autografado.
A sessão já havia começado. A atendente solicita gentilmente
o nome do prefeito para colocar num papelzinho no interior do livro para não
constranger o escritor. Numa possível falha na memória. O prefeito sorri
amarelo, pensa um pouco e responde com um “ele me conhece” sem jeito.
Assisti a cena, pois eu era o próximo da fila para aquisição
do livro. Quando comentei com a moça que o cara era o prefeito da cidade ela
simplesmente falou um desajeitado “eu não sou daqui”. Acontece nas melhores
famílias. Até pensei em comentar com o prefeito que a guria “não era daqui” para
aliviar seu desapontamento, mas resolvi deixar o chefe sestroso. Uma munícipe
que não conhece o prefeito deve ser algo que incomoda.
Paguei, falei o meu nome para ela colocar no papelzinho – o
escritor não me conhece – peguei o livro e fui para a fila de autógrafos. Havia
seis pessoas na fila, em minha frente um cara com três exemplares. Então,
seriam oito autógrafos antes do meu. Pacientemente aguardei.
Folheava e via que o conteúdo causaria algum alvoroço na
politica local. Um vespeiro misturado com teorias da conspiração. Mas farei uma
leitura mais atenta nas minhas férias de maio. Quando curtir um “sol de
maio”.
O prefeito, como era muito conhecido do autor falou um
festivo “vou furar a fila” e, descaradamente e sem-cerimônia, furou.
Abraçaram-se como velhos amigos e o prefeito recebeu o autógrafo. Despediram-se
com mais sorrisos, abraços e tapinhas nas costas. Afinal, eram duas raposas da
politica. Logo, o prefeito foi tomar um cappuccino com outros pares. E nós ali,
respeitosa e pacientemente, aguardamos na fila.
Pois é, né.
Ah! Qualquer semelhança com fatos reais é mera coincidência.
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