Athos Ronaldo Miralha da Cunha
É lugar-comum, aqui no Rio Grande do
Sul, quando queremos salientar o grau de disputa ou rivalidade, buscarmos
análises comparativas nas contendas entre chimangos e maragatos – se o assunto
for política – e na rivalidade Gre-Nal, se o tema for futebol.
Chimangos e maragatos viviam – e morriam
– em eternos confrontos por conta de disputas políticas e a cor de um lenço. A
degola era a menos cruel das ações dos caudilhos lá no início de século
passado. E a dupla Gre-Nal era, apenas, uma rivalidade esportiva. Hoje, os
chimangos e maragatos se contentam numa rivalidade de CTG na dança da chula e a
agressividade migrou para os estádios com torcedores, digamos assim, um pouco
mais exaltados. Contabilizamos mortes nos estádios por esse Brasil afora por
conta do fanatismo e intolerância por quem torce para uma equipe diferente. E
vamos chorando nossas jovens mortes e lamentando tanta incompreensão.
Recentemente faleceram Kita jogador de
futebol e Jose Eduardo Dutra político do PT. Duas pessoas com, praticamente, a
mesma idade e que enfrentaram longa enfermidade.
Toda morte é motivo de reflexão sobre a
vida e a nossa passagem por ela. Algumas são mais sentidas porque são pessoas
próximas – amigos, parente e conhecidos –, outras menos doloridas, mas também
reflexivas, pois podem ser jovens vitimados por uma tragédia – Santa Maria
conhece muito bem essa dor – ou pessoas que admiramos, ou não, por sua atuação
na sociedade.
Eu gostaria de escrever, apenas, um
lamento pelas mortes de Kita e José Eduardo. Amigos próximos, parentes,
torcedores e políticos devem estar sentidos. Ambos morreram jovens. Muito tempo
antes do que recomenda as estatísticas.
Mas o que nos deixa descrente com a
humanidade e com a política foram os protestos no velório de José Eduardo
Dutra. A gente é pego na contramão da lógica. Uma atitude inimaginável para
seres ditos “homo sapiens” que deveriam respeitar a dor alheia. Então, ficamos
sem saber o que dizer. Profundamente embasbacados, boquiabertos. Ainda quero
crer que se trata de uma ínfima minoria. Assim espero. Caso contrário,
estaremos caminhando a passos largos para a barbárie. Mas um dado é factível: a
intolerância é a marca de nosso tempo e a intransigência o modus vivendi.
Chimangos e maragatos já não peleiam
mais. Torcedores da dupla Gre-Nal, muito acanhadamente, encaminham a paz nos
jogos com a torcida mista. Mas temos várias intolerâncias: política, religiosa,
racial, afetiva e esportiva. Algumas pessoas têm dificuldade em conviver com
quem pensa diferente. O contraditório deixou de ser dialético para ser ódio e
raiva. Resolve-se
as divergências na porrada. Nossa sociedade está muito violenta e violência
gerada por motivos fúteis, na maioria das vezes.
A intransigência dos dias atuais
encaminha-se para o renascimento de uma luta fratricida nos moldes dos chimangos
e maragatos, num salve-se quem puder. E quando não for possível mais dialogar, Adão
Latorre e Xerengue darão gargalhadas no inferno.
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