Athos Ronaldo Miralha da Cunha
A primeira vez que ouvi a frase acima
foi num congresso da CUT – já faz algum tempo – quando a CUT era a Central
Única dos Trabalhadores. Numa disputa de palavras de ordem alguém gritou “a
classe trabalhadora é internacional” e todos acompanharam em coro e proliferaram
bandeiras vermelhas no plenário.
Podemos dizer que a frase “A classe trabalhadora
é internacional” equivale ao aforisma de Marx “Trabalhadores do mundo, uni-vos”.
Partindo desse pressuposto, qualquer indivíduo com um mínimo discernimento político,
solidário e classista no campo dos trabalhadores entende e aceita a vinda de
médicos estrangeiros – principalmente os cubanos –, vale o princípio do velho
Karl. Sendo assim, sejam bem-vindos trabalhadores de outras paragens. Os trabalhadores
mais necessitados os recebem de braços abertos.
Mas essa importação de trabalhadores –
principalmente os cubanos – envolvem questões muito caras a própria classe trabalhadora.
E, afinal, tem historiadores que acham que se Marx vivesse hoje ele não seria
marxista. Mas isso é outro papo.
O movimento sindical brasileiro luta,
há muito tempo, contra a terceirização, esse método de contratação de trabalhadores
foi implementado pelos governos neoliberais pós-ditadura e continua sendo até
hoje. É uma luta histórica. E o que acontece com os médicos cubanos é uma terceirização
e uma discriminação. Terceirização porque o governo brasileiro fará um repasse
a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde) que repassará ao governo de Cuba
que pagará entre 10 a 20% do valor os médicos trabalhadores no Brasil. Discriminação
porque os médicos de outras nacionalidades receberão um valor maior pelo mesmo serviço
praticado. Como trabalhador não consigo aprovar essa discriminação, essa terceirização
e o possível silêncio e omissão do majoritário sindicalismo brasileiro.
Ponto para Marx quando dissertou
sobre mais-valia. E ambos os governantes, de Cuba e do Brasil, sabem muito bem o
significado da tese marxista.
Já li vários argumentos contrários a
vinda dos médicos do exterior, e argumentos a gente respeita. Discorda, mas
respeita. O que não podemos admitir é a abominável atitude de uma parte da
categoria insultar a chegada dos médicos cubanos no aeroporto. O contraponto é
feito com argumentos. Fora disso é raiva, insensatez e truculência. Melhorem os
argumentos doutores.
Uma comunidade num fundo de um rincão
do Brasil agradece essa ajuda humanitária. Talvez a compressão dos médicos cubanos
sobre humanismo e solidariedade de classe esteja acima da nossa, visto que por
essas bandas não se discute mais isso. Para nós, brasileiros, luta de classe só
nos livros amarelados de outras décadas. Mas em alguns momentos ela é tão
evidente. E alguns governos, ditos populares, custam a contrariar interesses
dos poderosos. O Brasil precisa avançar para uma sociedade mais justa e igualitária.
Mesmo que as nossas atenções estejam voltadas para o índice Bovespa.
Se as pessoas que pagam plano de saúde
reclamam da precariedade dos serviços, imaginem quem depende do SUS. O fato é
que a saúde pública no Brasil está um caos. Aliás, tirando a saúde do Sírio-Libanes,
qual a saúde que funciona no Brasil? O programa “mais médicos” deve ser apenas
o começo de uma grande transformação, assim, esperamos que as condições de
trabalho sejam dignas e atendimento humanizado para os brasileiros. Os médicos vindos
do exterior são, apenas, uma parte dessa engrenagem que envolve hospitais, ambulatórios,
emergências, ambulâncias e até a falta de uma simples seringa. Se o programa
ficar só no “mais médicos”, infelizmente, não teremos mais saúde. Apenas um
paliativo com prazo de validade.
Bueno, mal ou bem, temos os médicos cubanos
para atender essa demanda excluída que os médicos brasileiros não ousaram assistir.
Já é um começo. É um clichê, mas temos uma luz no fim do túnel.
Agora peço licença que vou ali no Sírio-Libanes
fazer uma consulta.
– Doctor! Tengo un cotovel dolor. Es curable?
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