Athos Ronaldo Miralha da Cunha
A solidão do cargo é uma das
queixas dos presidentes da república. Chega um momento do dia que ele fica só.
Sem com quem trocar umas palavras soltas, uma conversa descompromissada. E
pouco adianta as comodidades do palácio e a presteza dos funcionários.
Sem possibilidade de frequentar
um cinema, um restaurante ou passear numa praça sob um sol de primavera.
Impossível sair sem envolver um séquito de seguranças, assessores e puxa-saco
de todos os naipes.
Assim, num domingo numa
Brasília seca e árida, o presidente fica no Palácio da Alvorada assistindo ao
jogo do Corinthians e saboreando um Cohiba, presente do amigo Fidel. Isso fazia
o Lula.
E a Dilma? Embora colorada, não
tem grandes simpatias pelo futebol. Charuto do Fidel, nem pensar. Reler Marx, não
é uma leitura para relaxar. Paulo Coelho? Nem pensar também. O Groucho ao invés
do Karl até poderia ser uma boa escolha.
Mas a Dilma gosta de
motocicleta. Dilma é aventureira e arrojada. Adora uma Harley-Davidson. Aqui a revelação:
há uma delas no palácio.
Aquela máquina no subsolo aguardando
alguém que saiba pilotar. Uma pessoa especial que faça roncar o motor daquela
potência. Uma companhia que não vai abrir o bico, discreta. Barulhenta apenas
quando em velocidade nas estradas. Uma cúmplice aguardando um segredinho da
mais alta mandatária do país. Assim, a presidente colocou o seu abrigo Adidas –
presente do amigo Fidel – “um capacete listrado e saiu por aí”. Livre nas avenidas
da capital. “A sede de liberdade rebenta a soga do potro” cantarolou uma música
do folclore gaúcho e saiu mordendo o vento na cara. Um cavalinho de pau em
frente ao Congresso. Uma pequena vingançazinha cantando pneus. E uma tentativa
de subir a rampa do palácio. Mas o guardinha lá em cima da rampa já apita
fazendo sinal para vazar. Gritando que ali não é lugar de motoqueiro. Área de
segurança, o loco. – Circulando!
Dilma sussurra um “babaca” e se
vai a toda velocidade em direção à ponte JK sobre o lago Paranoá.
Uma das fotografias mais
marcantes do passado de um presidente é a foto da Dilma nos seus vinte e poucos
anos diante de um interrogatório. Na imagem a estampa de uma jovem e altiva
revolucionária e ao fundo os valentões de farda escondem o rosto. Uma foto
enigmática, para múltiplas interpretações. Mas eu daria tudo para ver uma foto
da presidente voando as tranças pelas avenidas de Brasília. Seria a foto do
mandato.
Essa escapadinha da Dilma – ou
seria uma escapadilma da Dinha – tem seu lado arteiro, desobediente, mas
perfeitamente aceitável, a presidente, como todos nós, é uma pessoa que precisa
de um momento só dela. Um pouco de aventura, relax, para tocar a máquina
Brasil, bem mais potente que uma Harley-Davidson.
Agora, imagina se ela para no
sinal e dá de cara com o Serra fazendo malabarismos com bolinhas de papel? Nem
é bom imaginar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário