Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Hegel escreveu que todos os grandes fatos e todos
os grandes personagens da história são encenados duas vezes. Marx acrescentou:
a primeira como tragédia e a segunda como farsa.
Então, vamos ao que interessa no momento truculento
da nossa república. Para um governo claudicante é inegável que a assunção de
Lula como ministro da casa Civil acrescenta um fôlego novo de uma raposa velha na
articulação política e nas estratégias governamentais.
Nesse momento de instabilidade política e econômica
a cartada de Dilma acontece como derradeira para salvar a sua pele, seu governo
e sua história. O antecessor no primeiro escalão pode – eu falei pode – acalmar
os ânimos do mercado e da base aliada e refrear o andamento do impeachment.
Durante o seu governo Lula conseguiu harmonizar, de
certa forma, o capital e o trabalho: os ricos ganharam muito e os pobres foram beneficiados
com programas sociais. A conjuntura econômica e a popularidade de Lula eram favoráveis.
E o Lula era o cara.
Atualmente as atitudes dos agentes políticos estão mais
acirradas. Há uma crise de credibilidade nos políticos e nos encaminhamentos da
economia. As delações premiadas pagam mais que os bilhetes premiados das loterias
da Caixa. E o país está envolto em um mar de lamas. Em algumas regiões, literalmente.
E não vemos um horizonte claro... um novo amanhecer para sonhar.
Lula no ministério também pode – eu falei pode –
aumentar a crise política, pois é mais um investigado nos altos escalões da
república. Como também pode – eu falei pode – ser o interlocutor preferencial do
governo. Relegando à eleita pelos votos dos brasileiros a uma atuação de
coadjuvante.
A nomeação de Lula é legal – imagino, tudo dentro
da lei –, nem foi preciso o “na política tudo pode”, mas é imoral. Um desgaste a
mais para explicar. Porque estamos desconfiados que Lula está no ministério,
também, para conseguir o tão falado foro privilegiado.
A presidente, no meu modesto entendimento, deu dois
tiros no pé e um deles ela acerta. Se Lula não corresponder às expectativas a
cartada foi em vão e um estresse a mais para seu rol de explicações. E o
ex-presidente estaria, apenas, para se livrar da Lava-Jato by Curitiba.
Se for o superministro que imaginamos que será ela
terá terceirizado a faixa presidencial e inaugurado o bipresidencialismo no
Brasil.
Enfim, resta saber se Lula se enquadra na primeira ou
na segunda parte da assertiva do velho Marx.
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