Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Era vez...
Um lotação da linha circular Pindorama em um grande
centro urbano foi motivo de acaloradas discussões por conta do condutor. Logo
nos primeiros dias, após a inauguração, houve uma breve e insignificante
polêmica, pois o motorista resolveu que deveria ser chamado de “motoristo”.
Falou que tinha sido convidado para ser o condutor do lotação, e desejava ser
chamado de “motoristo” Juvenal.
Alguns passageiros mostram-se insatisfeitos por tamanha
exigência de um simples motorista. Eliseu, o primeiro passageiro a embarcar
estava indignado, mas resignou-se ao sentar nos bancos da frente e na janela. Um
professor de português afirmou que a palavra era de dois gêneros, mas o
“motoristo” estava irredutível.
Após algumas semanas ninguém mais comentava sobre
tal divergência. E o Juvenal continuava na condução do lotação da linha circular
Pindorama. Aparentemente tudo estava normal, mas algumas manobras de Juvenal ao
volante não foi do agrado dos passageiros. Dirigia o ônibus como quem pedalava
uma bicicleta. Por vezes falava algumas frases que os passageiros não
entendiam. A comunicação com Juvenal estava muito difícil. O descontentamento
foi ganhando vulto e começaram as reclamações pedindo mais atenção do Juvenal.
A insatisfação foi tomando corpo e chegou à
direção. Os passageiros mais exaltados estavam ameaçando alguns diretores na
frente da empresa. Batiam panelas quando o lotação “passava lotado” pelas
paradas.
Os mais raivosos pediam a troca imediata do
motorista. Outros – amigos de Juvenal – gritavam “Não vai ter troca”.
Cada viagem da linha circular tornou-se um inferno.
Uma parte dos passageiros gritava “Não vai ter troca” e outra parte gritava “Fora
Juvenal”.
Numa calada da noite a direção da empresa resolveu
se reunir para discutir e, se for o caso, definir o rito da troca do motorista
Juvenal. Mas também decidiram que Juvenal continuaria na linha Pindorama por
mais algum tempo. Precisavam de mais prazo para decidir.
Então, ocorreu o que ninguém esperava, os
passageiros desembarcaram do lotação. Uma debandada geral. Eliseu foi dos
primeiros e mais exaltados a desembarcar, dizem as más línguas com o lotação ainda
em movimento. Inclusive o cobrador deixou seu cargo vago. Deixaram o Juvenal “solito
no más” na condução do lotação. Não adiantou os gritos dos amigos de “Não vai
ter troca”. O substituto de Juvenal já havia feito entrevista no departamento
de recursos humanos e estava se aprontando para ser o novo motorista. Pronto
para substituir o Juvenal na condução do lotação. Eram amigos – inclusive em
outros tempos trocavam cartas –, mas o sonho de Hermínio era ser o motorista da
linha Pindorama. E o cavalo estava passando encilhado...
Quando foi anunciado que Hermínio seria o novo
motorista ele foi recebido com vivas. Agora, sim, a linha circular Pindorama
teria um verdadeiro condutor. Todos estavam satisfeitos com a troca e voltaram em
alvoroço para o lotação. Todos aqueles que debandaram por conta da troca de
Juvenal voltaram a utilizar o transporte coletivo. Eliseu foi o primeiro a
embarcar no lotação sob a direção do novo motorista. Embarcaram de braços
erguidos dando vivas ao Hermínio. Era tamanha a euforia e felicidade dos
passageiros que eles não perceberam quando Hermínio entrou na contramão,
derrapou na curva e quase capotou o ônibus. Aos trancos e barrancos Hermínio
passou a dirigir pelas ruelas, ruas, avenidas, não desviava dos buracos e não
respeitava os sinais.
Hermínio era da mesma escola de Juvenal. Mas os
passageiros estavam extasiados com o novo condutor e a normalidade havia sido
recomposta na linha Pindorama.
E, assim, os passageiros da linha circular
Pindorama viveram felizes para sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário