Depois da estreia com “Helena de Uruguaiana” Maria da Graça Rodrigues nos apresenta “Lua castelhana”.
Uma narrativa
que passeia pelo tempo e nos traz os encontros e desencantos de um atleta e de
uma idealista repórter. A infância em Bella Unión e Uruguaiana, a ascensão e o auge
numa equipe de Porto Alegre e o declínio numa praia pouco frequentada no
Uruguai. Isso tudo numa época em que ter opinião poderia ser motivo de clausura
e desaparecimento e jogar bola numa equipe de ponta não era sinônimo de futuro
garantido.
Juan Rios se vê transtornado
pelo desaparecimento de sua amada Ana Lúcia, pois a jornalista havia publicado
uma entrevista com um conhecido político brasileiro exilado no Uruguai, e, por
conta dessa reportagem, fora sequestrada. O craque amargurado pela ausência da
companheira, falha na cobrança de um pênalti. No mesmo palco onde outrora fora
ovacionado Juan Rios é vaiado por 55 mil torcedores.
Nesse romance Maria
da Graça nos remete para questões relevantes sobre a alienação dos heróis da
bola, o silêncio de uma imprensa sufocada pela censura e uma jornalista
desaparecida por conta de sua audácia.
A autora não desvenda
qual grande time de Porto Alegre jogava o Juan Rios, mas eu suspeito que seja o
Internacional. Uma dedução tirada no próprio livro.
Um dado
importante revelado pela narrativa – de pouco conhecimento dos desportistas de
um modo geral – é a origem da palavra “vareio”. Para isso Maria da Graça reporta
a primeira vitória do Internacional sobre o Grêmio: seis a zero.
O livro tem uma
dinâmica agradável e se sustenta envolvendo o leitor. Trata de um tema pouco
usado na ficção, o futebol. E transita por um tempo muito presente, os anos de
chumbo. Talvez a Ana Lúcia – pela personagem forte que é – merecesse uma sobrevida.
Ou uma morte mais detalhada.
Enfim, uma
recomendável leitura para quem gosta de futebol e para quem deseja algo mais do
que o esquecimento de uma época de exceção.
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