Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Essa história
ocorreu no século passado. Eu trabalhava em Porto Alegre e morava
bem longe da Azenha, mas um frequentador assíduo dos cinemas e dos jogos no
Beira-Rio.
O coirmão ainda
não era bi da Libertadores e a derrota para o Ajax ainda não tinha sido
sofrida. O Felipão não era treinador da Seleção Brasileira, apenas, um cara que
vivia sem pressão.
O jogo em questão
era pela Copa do Brasil de 1993. O GFPA enfrentaria um timeco do interior de Mato
Grosso. O glorioso Sorriso Esporte Clube, uma espécie de Mazembe caipira.
Jogão, um clássico.
Evidentemente,
que num confronto desses o coirmão era 200% favorito. E eu jamais ventilaria a mínima
hipótese em me deslocar até a Azenha para assistir a uma goleada azul, preta e
branca. Um jogo risco zero para os azuis. Sorriso tricolor na certa.
Aí entra o inesperado
que altera o desenrolar dos acontecimentos. Um dileto amigo de Santiago do
Boqueirão – tricolor trirroxo e maragato – de passagem por Porto Alegre, me
ligou convidando para o jogo no Olímpico. Estava trifaceiro.
– Tu está de
sacanagem comigo? – falei ao telefone.
– Eu nunca fui ao
Olímpico Monumental. Estou querendo assistir ao jogo, mas não quero ir sozinho.
Até comprei um bombacha nova. Sabe como é, né. Eu sou meio grosso. Vamos lá,
vai de sangue-doce. Só para me acompanhar.
– E o lenço, vai
com o manto maragato que Honório Lemes ostentava nas peleias?
– Tu está louco.
Vou com o lenço preto, estou de luto pelo meu avô, eu sou grosso, mas não sou
trouxa.
Resultado da
conversa. Fui ao tal Olímpico Monumental.
Para falar a
verdade também era a minha primeira vez no estádio do coirmão. Éramos dois pela
primeira vez, um extasiado, boquiaberto, feliz como paisano a meia guampa, faceiro
que nem ganso novo em taipa de açude, como mosca em tampa de xarope.
Eu? Indiferente.
Para quem
assistiu no meio da Mancha Verde a vitória do Internacional sobre o Palmeiras pela
Copa do Brasil em 1992, um joguinho na galera tricolor não teria maiores problemas.
Era só ficar na minha.
O amigo comprou
os ingressos, o meu sacrifício não afetou o bolso, e nos acomodamos nas
arquibancadas. Naqueles tempos ainda não havia a avalanche. Mas havia lanche e cerveja
na lancheria.
A esmo comentei
baixinho só para o amigo ouvir.
– Como o coirmão
vai ganhar, torço para que dê briga e uma meia dúzia de atletas sejam expulsos.
Afinal, vim aqui para me divertir.
Pude ver de
soslaio um sorrisinho amarelo. Nada falou estava animado demais para se
aborrecer.
O GFPA ganhou,
como era previsto, uma goleada de 5 a 2. O jogo teve, apenas, uma expulsão e
dois cartões amarelos para o Sorriso.
Lógico, voltamos
a pé para a casa. Pois, até à pé nós voltaremos. E meu amigo era todo sorriso. E
eu indiferente, mas tinha feito um tricolor feliz. Uma boa ação. Naquele ano o
GFPA perderia para o Cruzeiro e ficaria com o vice-campeonato.
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