Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Sinceramente, não queria escrever uma crônica sobre
o ódio. Não deveria fomentar esse sentimento. Mas a política, nos últimos
tempos, tem propiciado várias reflexões. A web, na recente campanha eleitoral,
foi um faroeste. Uma terra de ninguém no melhor estilo meu nome é Ninguém.
Em terras pampeanas, nos tempos em que chimangos e
maragatos peleavam nas revoluções, as desavenças eram concluídas com sangue nos
olhos de um lado e sangue no pescoço de outro. Então, o ódio nas disputas
políticas já foram bem mais trágicas, violentas e, digamos assim, definitivas
para findar uma pendenga.
Mas numa época de valorização dos direitos humanos,
das minorias e das causas sociais o discurso do ódio e do aniquilamento do adversário
traz em seu bojo uma fúria desmedida. Contribui pouco para o aprimoramento do
debate. Há pouco tempo havia mais implicância do que ódio – nunca odiei um
adversário – para suplantar um oponente numa disputa eleitoral. Em um discurso
para acordar a militância é comum usar alguns termos e expressões mais
agressivas. Isso, num tempo em que a militância não era paga.
Nesse estágio da tecnologia o discurso do ódio é
facilmente propalado pelas mídias e digamos, democratizado. Odiamos “a lo
loco”. Da mesma forma que amar, odiar é da essência do ser humano. Aliás, em
muitas desavenças há uma relação de amor e ódio.
O discurso e apologia ao ódio nesses tempos de
comícios nas praças, discussões no Facebook ou ante ao chamado do juiz de
Curitiba suplanta o mínimo de sensatez e urbanidade que se deseja entre bons
debatedores.
Odiar um partido a ponto de desejar a sua extinção.
Odiar uma pessoa a ponto de desejar sua morte. Odiar um cidadão por suas simpatias
políticas. Odiar uma classe por conta de tudo que acontece ou deixa de
acontecer. São exemplos que o discurso do ódio não é privilegio de uma
ideologia. Cada um com seu ódio em vermelho e azul e estamos todos contemplados
e sorrindo amarelo. O discurso de ódio contra os corruptos é contra todos os
corruptos ou alguns corruptos são preferenciais?
Assim, a reflexão a ser feita em ritmo de
autocrítica poderá ser a seguinte: até que ponto eu concordo com o discurso de
ódio se o orador é um parceiro de ideologia?
Mas eu gostava mesmo era de odiar no Orkut. Participava
de duas comunidades “Odeio esperar resposta no MSN” e “Odeio gente atrás de mim
o PC”.
Próximo texto: Debandada.
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