Athos Ronaldo Miralha da Cunha
2016 ficará marcado como um dos mais importantes da
história do Brasil. O ano em que nos expusemos em demasia e afloramos nossos
conceitos. Alguém ainda lembra dos “instintos mais primitivos”? Pois é, quase
chegamos lá. Historicamente tão importante como os anos 1822; 1888; 1889; 1930;
1954; 1964; 1992 e 2002 [?] porque foi o ano em que a política teve a chance de
ser diferente, mas não foi. 2006 também foi importante, mas o texto é político
e meu coloradismo está meio em baixa.
2016 foi um ano marcado pela instabilidade política.
As palavras mais lidas e ouvidas foram: excessos, radicalismo e intransigência.
Claro: impeachment e lava-jato estavam na boca do povo. Por conta do
comportamento e das divergências de opinião, o fazer político atingiu o topo no
pragmatismo, convicções e ideologia foram descartadas por motivos nada
republicamos. Barganhas e toma-la-da-cá a ferramenta mais curtida. Acordos de
conveniência e coligações de ocasião e um salve-se quem puder diante do juiz.
Mas esses tipos de acordos vêm de longe. Não foi
inventado agora, o know-how remonta a 1500, outro ano importante, nós é que acreditamos
em algo diferente e o diferente prometido tornou-se igual. A mesmice ficou
tão-somente mais acentuada. Então, 2016 chegou para fazer história e mudar o
curso da nau.
Voltamos a Heráclito: não nos banhamos duas vezes
no mesmo rio. Sairemos todos diferentes de 2016. Conseguiremos sobreviver a
pragmatismo eleitoral, e acordos espúrios de agora em diante? Acataremos
coligações que colocam a ideologias às favas?
A impressão que tenho é que jogávamos às brincas
até agora. O ano de 2016 nos obrigará a jogar às devas. A política terá que ser
mais séria, a ideologia deverá ser, minimamente, respeitada e deveremos ter uma
disputa de projeto e não apenas de poder. Se a resposta às perguntas acima for
sim, continuaremos os mesmos e, pior, coniventes. E fatalmente retornaremos à Marx
e 2016 será repetido como tragédia ou farsa logo adiante. E vamos lamentar
novas turbulências, excessos, radicalismos e intransigências. Até aprendemos a
lição. Às devas, companheiros.
Próximo texto: Esgualepado.
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