Athos Ronaldo Miralha da Cunha
Se não estou enganado as palavras esgualepado e
espraiado tornaram-se correntes no Rio Grande do Sul pelo uso seguido de Olívio
Dutra em suas manifestações.
Foi, justamente, a palavra esgualepado que veio em
minha mente ao acompanhar o desfecho do resultado das eleições em 2016. Do
ponto de vista eleitoral podemos afirmar que o pensamento de esquerda saiu
esgualepado desse processo. A derrota foi acachapante. Assim, profundamente
reflexiva. As causas? Inúmeras.
Não pretendo elencar, mas começam com a indicação
de Alencar como candidato a vice na chapa de Lula e com a carta ao povo
brasileiro. Nesse momento a esquerda, ou o seu mais genuíno representante,
abandona algumas teses para se acomodar e se moldar ao status quo.
A ideia não é buscar causas externas e sim internas
– autocrítica – no que contribuiu para esse quase aniquilamento da esquerda. Eu
não considero a raiva e o oídio como causas fundamentais, pois o surto passa e
a ideologia fica. Enquanto a esquerda se esmorecia a direita saía do armário. A
esquerda enrolou a bandeira e a direita perdeu a vergonha de ser direita. E o
Brasil polarizou.
Diante desse imbróglio político resta, apenas, uma
autocrítica sincera e irrestrita. Autocrítica é uma palavra pouco pronunciada
nesses tempos de baixa autoestima e arrefecimento, mas a esquerda não escapará
dela. A trajetória dos acordos, pragmatismo eleitoral e alianças esdrúxulas devem
ser discutidas à exaustão. A sinuca de bico em que a esquerda se meteu não foi provocada,
apenas, pela direita.
Em 2002 a esperança venceu o medo, mas apenas
venceu o medo. A esperança não se consolidou como uma nova prática política. O
governo Lula sucumbiu às engrenagens da estrutura de poder e acabou virando um
governo de coalizão acomodando companheiros e neocompanheiros de qualquer
quadrante.
Como afirmei são inúmeras as causas dessa derrocada:
mídia conservadora, corrupção, antipetismo, crise política, mas um mea culpa
precisa ser feito. A base social da esquerda precisa desse retorno para buscar
sobreviver ou renascer.
É uma imbecilidade afirmar que a esquerda acabou,
como fazem alguns cronistas mais exaltados. Não se extermina um pensamento, uma
ideologia. Ela precisa ser refundada pela base.
Sem autocrítica remontamos a Groucho, também Marx:
esses são os meus princípios, se você não gostar deles eu tenho outros. E tudo
será como dantes e logo estaremos mais esgualepados e amargurando novas
derrotas.
Próximo texto: Más companhias.
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