Quais são as boas companhias da esquerda?
Para governar na nossa democracia participativa o
presidente necessita fazer acordos e construir a tão falada base aliada. Aí
começa a complexa engrenagem das alianças e negociatas. Para conseguir o apoio
da maioria dos congressistas precisa ceder e isso envolve cargos e emendas.
Então temos no interior do governo – qualquer que seja ele – as más companhias e
isso é um baita problemão como afirmou certa feita o Olívio no auge de um dos
escândalos. Enquanto esses pactos eram feitos dentro do mesmo conteúdo
ideológico parecia normal e, convenhamos, era normal. Mas quando a esquerda
ascende ao governo – diga-se, respaldada pelo voto popular – o apoio no
Congresso foi negociado nos mesmos moldes e com parâmetros idênticos. Com a similar
lógica anterior e, cá entre nós, poderia ter sido diferente. E todos sabemos o
resultado disso.
Mas no caminho para explicar medidas e conchavos
havia um horizonte utópico rebaixado, como falou, em dado momento, Tarso Genro
justificando alguma medida impopular.
A saída de Olívio Dutra do ministério das cidades
para dar espaço a um apaniguado do PP foi simbólica e sintomática.
Infelizmente, uma indignação silenciosa na esquerda. Faltou vociferar de punho
cerrado. Mas a esquerda estava estática e extasiada.
As más companhias foram o sustentáculo e o
cadafalso dos recentes governos da esquerda no Brasil. O senso de oportunismo é
muito grande, visto que a mesma base que apoiava Dilma foi a base que a cassou.
Um acordão imoral transformou em presidente o vice, principal e genuíno
representante de um pacto para governabilidade, em um traidor da cepa
republicana.
Mas qual a boa companhia? O povo, diga-se, para
qualquer governo. A base de sustentação de um governo deveria ser o povo. E
isso é uma lição a ser aprendida. Sabe-se lá quando!
O povo andou pelas ruas em junho 2013 e causou um
alvoroço nas hostes da nossa república e seus poderes constituídos. Alguns
desatentos – ou atentos demais – não entenderam bem o que estava em jogo. E
preferiram desdenhar daqueles que acordavam naquele momento. Sem dar-se conta
que, naquele momento, os dorminhocos eram os que desdenhavam. A onda passou
para alívio dos governantes. Mas foi inesquecível o semblante amedrontado de
Renan Calheiros diante das manifestações daquele mês. Então, quem deve dar a
governabilidade? Qual a boa companhia? Pensativo me reponto...
Próximo texto: A cultura do ódio.
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