quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Dar com os jegues n'água

Athos Ronaldo Miralha da Cunha
twitter.com/athosronaldo

Consta que em num passado distante, em uma querência desse continente, houve uma disputa entre dois cavaleiros. Um chimango e um maragato deveriam transportar uma carga até determinado lugar. Quem chegasse primeiro receberia o cobiçado prêmio, a relíquia de uma adaga farrapa com cabo de prata.
Como o caminho era incerto entre várzeas, coxilhas e canhadas, o chimango escolheu algodão como carga por ser mais leve. O maragato optou pelo sal por ser mais volumoso. Mas os competidores não contavam com um rio no trajeto. Ao atravessá-lo, a carga do chimango umedeceu e tornou-se extremamente pesada. O cavaleiro do lenço branco perdeu e ainda quase morreu afogado e o do lenço vermelho perdeu a carga dissolvida pela água.
Os dois competidores fracassaram no intuito de transportar a carga. E deram com os burros n’água – vindo daí o ditado – e não receberam o prêmio. A tão sonhada adaga farrapa e, de lambuja, uma cuia que foi de Bento.
Não sei se José Serra carregava sal, algodão ou alguma mala sem alça, e muito menos a cor de seu lenço, mas o fato é que o candidato não conseguiu levar a carga e não recebeu o prêmio. O tão sonhado palácio no planalto. Podemos afirmar que José Serra “deu com os burros n’água” nessa eleição.
Algumas decisões tomadas durante a campanha e outras decisões não tomadas antes da campanha contribuíram para sua derrota no 2º turno. A primeira delas foi a demora em entrar, definitivamente, com ímpeto de candidato, visto que a sua principal adversária já estava com o cavalo encilhado e a carga na garupa. Posteriormente a polêmica da escolha do vice. Um Índio, que se tivesse portado como um “flecha ligeira” seria diferente, mas ele mais parecia um “touro esquentado”.
No entanto, o que contribui para o naufrágio da carga de Serra foi o arremesso de uma despretensiosa bolinha de papel branco por um suposto e desavisado militante vermelho. Uma bolinha de papel sem fins lucrativos tornou-se o centro de uma falsa polêmica requentada diuturnamente pelos marqueteiros, num debate inconseqüente. Mas Serra não sai totalmente derrotado. Qualquer candidato apresentado pela oposição seria vencido pela Dilma. O eleitor mais humilde votou majoritariamente em Lula e na continuidade do governo representado pela Dilma. Não era um simples rio que estava na trajetória de Serra.
Olhando-se a geografia das votações percebemos que nos estados menos desenvolvidos economicamente, a candidatura de Dilma foi fragorosamente votada. Mesmo que Serra fizesse campanha em um jegue, por todo o nordeste do Brasil, ele, ainda assim, daria com os jegues n’água.
Como em política sempre estamos fazendo prognósticos, fica a impressão que Serra, além de dar com os burros n’água, vai ter que tirar o cavalinho da chuva. Pois um trem mineiro partiu da estação. Aécio chega a Brasília com um cordão de... vagões à tiracolo.
Enfim, como aqui por essas bandas temos um eterno dualismo, fica a dúvida para saber quem era lenço branco e lenço vermelho na eleição. Pois, de minha parte, não gasto pólvora em chimango.