sábado, 23 de junho de 2012

Memórias de uma guerra suja




Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Na semana em que Lula aperta da mão de Maluf para celebrar uma aliança política com vistas a eleição para prefeito de São Paulo, encerrei a leitura do provocante “Memórias de uma guerra suja” de Claudio Guerra em depoimento a Marcelo Netto e Rogerio Medeiros.
Claudio Guerra foi um dos policiais mais influentes nos tempos da ditadura. Era o tarefeiro das ordens para executar e extirpar a esquerda do Brasil. O título está bem com o que é contado, pois uma guerra suja aconteceu nos anos de chumbo. Uma guerra desigual. Mas poderia ser Memórias de um banho de sangue ou Memórias de um assassino. Pois é isso que esse Guerra é: um assassino impune.
Cada página do livro é um assombro de revelações. De conspirações e que passavam ao largo da ética, da legalidade. Era uma luta ideológica de extermínio. Inclusive entre os “amigos” anticomunistas.
Assim aconteceu com a morte de Fleury – um dos mais cruéis líderes dos torturadores do país – foi tramada em um restaurante pelos seus próprios pares.
“Não era uma decisão fácil. Sabíamos também que quem votasse contra a morte dele morreria junto com ele. Era assim que funcionava”. A lista de assassinatos é grande.
Causa perplexidade saber que corpos de comunistas eram incinerados em fornos de fazendeiros. Execuções a sangue frio. E encenações para uma versão oficial do assassinato. Bem sabemos como foi armada a morte de Vladimir Herzog.
Vejam o que Guerra diz sobre Nestor Veras – Membro do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro – “Nestor Veras já estava preso. Ele estava bem machucado. Após tirá-lo de lá, o levamos para uma mata e demos o tiro de misericórdia”.
Assim é o livro depoimento. Um relato de atrocidades. Mas o surpreendente é saber que alguns que ainda estão na mídia também frequentavam o “Angu do Gomes” o restaurante da conspiração. O Boni da Rede Globo. O hilário Lúcio Mauro do programa Zorra Total, Jece Valadão e Carlos Imperial. Também fazia parte do angu o Ciro Batelli que faz participações no programa do Faustão.
Sorte teve o Brizola que sofreu uma campana por várias semanas e no dia que deveria ser assassinado não saiu do prédio em Copacabana como rotineiramente fazia. E a operação foi abortada.
Roberto Marinho – quem não conhece – foi quem planejou o atentado em sua própria residência. Pois é, né.
O livro todo é assim: conspiração, traição, atentados, tortura, dor, sadismo, assassinato e um banho de sangue.
Eu comecei esse texto falando do aperto de mão entre Lula e Maluf. Maluf é um legítimo representante desse período, um filhote da ditadura, se Lula esqueceu todas essas barbaridades por um minuto e meio de horário eleitoral eu só posso lamentar.
Por fim, Claudio Guerra virou pastor evangélico. Hoje vive lendo a bíblia.
Aleluia irmão.

domingo, 17 de junho de 2012

O cavanhaque de Maluf


Essa crônica eu elaborei em 2007. Republico porque me parece bem atual.

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

As discussões sobre direita e esquerda sempre suscitam pertinentes debates e provocam inesgotáveis reflexões. Embora, atualmente, não saibamos precisamente o que seja ou onde está a direita e a esquerda.
Convencionou-se de “geléia geral” o atual estágio da política brasileira e esse estado nós podemos creditar ao desempenho governo do presidente Lula na ânsia incontida de buscar a ampliação da base de apoio negociando cargos tanto a direita quanto a esquerda.
Há cinco anos a esperança venceu o medo e o Brasil, em festa, aclamava o presidente operário. Após o trágico fim do socialismo real a esquerda reacendeu momentos de expectativa num governo democrático e seus ideólogos ficaram atentos as políticas a serem implementadas no país.
No entanto, as bandeiras históricas da esquerda foram relegadas, primeiramente, a um segundo plano e posteriormente esquecidas. As reformas de base e de cunho popular foram praticamente inexistentes, beirando ao assistencialismo e a esmola. O horizonte utópico foi rebaixado e está abaixo da linha do aceitável, cada vez mais distante da dignidade tão prometida.
Os banqueiros nunca ganharam tanto dinheiro e empresários dos mais variados setores aprovam a atual política econômica. Se um governo não contraria os interesses da classe dominante e não tem a opção pelos pobres esse governo não é de esquerda.
Nas últimas eleições para prefeito o senhor Paulo Maluf emprestou sua imagem para apoiar Marta Suplicy no segundo turno em São Paulo. E as fotos de Maluf e Marta apareceram nos carros e murais pela cidade.
Recentemente, começou a ser construída uma aliança entre o PT e o PP com vistas às eleições municipais do ano que vem. E mais uma vez o senhor Maluf é o alvo petista. Calma, se você estiver constrangido você é de esquerda.
O partido de origem proletária e que abrigou os exilados e perseguidos políticos e o partido que conspirou e sustentou a ditadura estão em uma inusitada lua-de-mel pré-nupcial. Pra ser franco, eu não sei quem comete adultério ideológico nessa história.
Eu posso ter dúvidas do que seja direita e esquerda, mas sei o que é coerência.
Um amigo manipulando digitalmente uma foto colocou um cavanhaque em Maluf. Afinal, o companheiro precisa de um quê de esquerda dos anos 70 para não causar profundos e indesejáveis desconfortos nos remanescentes da velha guarda petista nas futuras reuniões da coligação. A propósito, o Maluf de cavanhaque é uma excrescência.