segunda-feira, 6 de maio de 2013

A menina Nova


Athos Ronaldo Miralha da Cunha

No dia 14 de junho de 2025 a menina Nova – era assim que se chamava: Nova – acordou muito cedo. O dia seria longo e culminaria com a festa de seus 15 anos no clube. O modesto Centro de Tradições Gaúchas Modesto Fagundes levava o nome do primeiro subprefeito do distrito.
Abriu a janela de seu quarto e vislumbrou os primeiros raios do sol daquela manhã. Estava feliz e foi correndo para a cozinha dar um bom-dia aos pais. Tomou o café numa ligeireza espantosa e logo começou os preparativos para enfrentar o dia mais importante de sua vida. A ansiedade estava a olhos vistos. A menina Nova precisava se arrumar e experimentar o novo vestido de prenda. E, pela tarde, ensaiar os passos de dança com o Dilmo Peixoto, seu colega de aula e par na noite de sua primeira valsa.
Nova sonhou longos anos com esse dia. Teria uma flor no cabelo, um anel de pérolas no dedo e o sorriso dos pais. Filha única dos professores estaduais Aristeu e Clarisse.
Nova e Dilmo tinham praticamente a mesma idade a diferença era de poucos meses. Ambos haviam nascido em 2010, Dilmo em fevereiro e Nova em junho. Os pais faziam gosto desse namorico, eram de famílias daquele distrito e se conheciam desde crianças. Os pais de Dilmo foram fervorosos militantes nos primeiros anos do século XXI e o nome do guri não fora escolhido ao acaso, bem como o nome da irmã dois anos mais velha que se chamava Luiza. Assim, juntamente com os pais de Nova e mais quatro casais, formaram a comissão de emancipação do distrito, movimento que não prosperou, mas que em contrapartida conseguiram melhoras na infraestrutura e aquela escola em que os filhos estudavam. Um colégio reivindicado há muito tempo.
O pai de Dilmo virou subprefeito e Aristeu Fagundes o primeiro diretor da escola fundada dois anos após a mobilização de emancipação de Roda Carreta, o quarto distrito continuaria distrito. Naquela oportunidade todos portavam um adesivo “Eu sou Rodacarretense”. Mas algumas obras conseguidas pelos deputados da região e a Escola Estadual de Ensino Médio Tocaio Barbosa fora um bom negócio. E a população assimilou a condição de distrito.
O pai de Nova também era conhecido como um dos melhores professores de português e literatura da região. Até fora convidado para lecionar num cursinho pré-vestibular.
E essa paixão pela língua portuguesa também foi evidenciada na filha. No nome da filha. Nova não entendia o porquê de seu nome, ficava rubra de vergonha quando precisa falar ou escrever todo o nome em algum cadastro.
Fez de tudo para que no protocolo do baile fosse anunciado o nome Nova, simplesmente Nova, que era um nome que ela adorava por ser inusitado e diferente. Mas na hora da chamada das prendas o locutor não lembrou e anunciou a prenda, filha de Aristeu e Clarisse Fagundes: Nova Ortografia da Silva Fagundes.
A guria entrou bufando no salão.