sexta-feira, 23 de abril de 2010

Eyjafjallajoekull


Após um longo tempo de inatividade o vulcão Eyjafjallajeokull resolveu assombrar a Europa. Uma enorme nuvem de cinzas vulcânicas era a causa dos transtornos para quem necessitasse embarcar em algum vôo no Velho Continente.
Em se tratando de algo que vem das profundezas da Terra, ficamos com a sensação de que a natureza está dando o troco. E, assim, sou acometido por uma dúvida: e se os Maias erraram as previsões em dois anos? E a coisa não será em dezembro de 2012.
As recentes catástrofes no Haiti, Chile e agora o despertar do Eyajfjallajoekull nos aproxima de algumas expressões que não estão no nosso cotidiano. Corpos magmáticos, placas tectônicas e crosta oceânica... e vamos nós em buscas de tais significados. Mas fico incomodado em saber que as placas tectônicas têm movimento relativo. E mais incomodado ainda por estar pisando em cima delas. Vou pensar duas vezes, nessas tais placas, antes de pular nas arquibancadas do Beira-Rio.
Para um expectador distante – e sem a mínima probabilidade de viajar para a França – as cinzas da Islândia não chegam a ser um problema. Diante dessa manifestação da natureza resta, apenas, a solidariedade com as pessoas que terão que ficar mais alguns dias em Londres, Lisboa ou Madri. Deve ser terrível passar o dia 16 de junho em Dublin, mas até a festa do Bloomsday as cinzas serão... cinzas.
Confesso que se estivesse em Paris eu seria um homem triste, mas muito triste mesmo, com a possibilidade de ficar mais uma semana por lá. Eu iria passear pelos cafés, Louvre ou nas vinícolas francesas, indignado por não poder voltar.
Eu tomei conhecimento do nome do dito cujo, lendo os jornais do dia em que Brasília comemorava seus 50 anos. O nome do bichano estava escondido no meio do texto “vulcão islandês Eyjafjallajokeull entrou na fase mais ativa”. Segundo Raul Maxwell, havia mais vogais no nome, mas foram consumidas pela erupção. Esse nome tem tudo a ver com vulcão seja ele inativo ou não. Mas, para mim, essa maneira aleatória de colocar vogais e consoantes é um xingamento.
Quando o juiz anular um golaço do Walter, em completo impedimento, pode ter certeza, chamarei o juiz de Eyjafjallojaekull. Quando soltaram o ex-governador do Distrito Federal eu fiquei sem palavras. Boquiaberto porque não existe mais expressões para demonstrarmos nossa indignação com os fichas sujas. O vulcão da Islândia foi a salvação. De agora em diante quando um fulano aparecer nos jornais colocando dinheiro nas cuecas ou dançando a valsa da impunidade, todos estaremos convocados para encher as praças de nossas cidades e gritar a pleno pulmões: seus filhos da Eyjafjllajoekull!
Para encerrar mais duas palavrinhas. Primeiro, devo dizer que cada vez que escrevi o nome do vulcão escrevi diferente. Se alguém percebeu, parabenizo pela atenta leitura. E, por fim, como se pronuncia esse troço? Eyjafjallajoekull!

terça-feira, 20 de abril de 2010

Matungo torto e os cavalos do comissário

Votar sempre é bom. A democracia evolui a cada eleição e o eleitor aprimora o voto. Diante da urna: a hora da verdade... ou do troco.
Então, vamos votar massiçamente na eleição da Funcef que ocorrerá entre os dias 24 de abril a 06 de maio. A participação fará a diferença. Vamos eleger nossos representantes na Direção da Funcef e membros do conselho deliberativo e fiscal.
Essa eleição se reveste de suma importância, pois também conta com o componente pós saldamento. É uma oportunidade única de reabrirmos esse debate que sempre foi unilateral. Poucos sindicatos no Brasil, para não dizer três ou quatro, fizeram o debate do saldamento ouvindo os dois lados. Fazendo ponto e contraponto. Os demais foram obedientes ao comissariado.
Numa eleição, como essa, exerceremos nossa participação política. É importante sabermos o rumo que desejamos para a nossa Funcef. E a construção do voto se dará pela atenta leitura dos documentos das chapas com as propostas, programas e feitos. Todas como legítimas representantes dos participantes da Funcef. E por isso temos que avaliar bem o nosso voto. Quem são, realmente, os nossos representantes?
Em outros tempos votaríamos de olhos fechados nos tais representantes legítimos da categoria. A luta era ideológica e o horizonte definido. Nosso envolvimento era unicamente político. Éramos ávidos por mudanças numa visão sonhadora de mundo. Éramos utópicos e felizes na construção desse horizonte. Até esquecíamos que quando aposentados o salário não teria ideologia. Salário não é de esquerda ou de direita... tem que nos sustentar minimamente com dignidade.
O novo nessa história toda foi o Novo Plano, com a adesão de uma considerável parcela do movimento sindical na sua campanha. Assim, faz parte dessa eleição um caráter pragmático. Como acreditar – por exemplo, nós que estamos no Reg/Replan – em colegas que foram amplamente favoráveis a migração e sequer fizeram debates em suas bases ouvindo os dois lados? Eles estarão na defesa dos interesses dos não-saldados? Como acreditar em colegas que foram subservientes ao assédio moral pró-migração exercido Brasil afora pela Caixa e Funcef? Teriam esses candidatos a representantes dos beneficiários afinco na intervenção em favor de alguma reivindicação dos não-saldados? Aqui eu aciono o meu “desconfiômetro”. Tenho que confessar. Eu sou desconfiado – mais desconfiado que matungo torto – então, nesse pleito tenho que ser político, pois temos que votar no conjunto das propostas que contemplem a maneira de como vejo o mundo, mas, nesse caso especifico, também teremos que ser pragmáticos.
Estou no Reg/Replan e vejo que esses participantes têm o direito de ter uma representação junto à direção da Funcef. Um candidato que está no Reg/Replan será, sim, um legítimo representante dessa considerável parcela de associados. Afinal, é comum no sindicalismo a tal proporcionalidade.
Mas o motivo desse texto não é um chamamento ao voto em candidatos do Reg/Replan. É, também, uma avaliação política do nosso movimento.
Nas últimas negociações salariais ficamos submetidos, ou ao reboque, da Articulação Bancária. E muitas vezes fomos para as assembléias denunciar a subserviência ao governo e a direção da Caixa no que tange ao acordo coletivo. É com tristeza que percebemos nas reuniões verdadeiros cavalos do comissário na mesa de negociação. Temos ciência que sempre nossas negociações foram rebaixadas. Com índices abaixo do que esperávamos. Muito aquém do tamanho da nossa greve. Quantas vezes aqui no RS nós aprovamos, em Congresso Estadual, um índice e no encontro nacional o percentual aprovado era abaixo. Inclusive com os votos dos colegas da Artban gaúcha. E essa incoerência era motivo de muita discussão e revolta. Por questões de divergências políticas, estratégias de campanha e atrelamento ao governo eu não me sinto representado por esse campo do movimento sindical. Assim, o voto na chapa 1 – Movimento pela Funcef – para mim, está descartado. Reafirmo: são divergências políticas com a orientação e prática sindical da Articulação bancária.
Já faz tempo que rebaixamos nosso horizonte utópico, mas não devemos rebaixar nosso trópico no horizonte e nossos tópicos nos acordos. Há alguns anos a esperança venceu o medo. Hoje, quem venceu quem? Ou será que somos nós os derrotados por não termos mais a picardia da audácia. Até quando vamos dizer sim, quando eu quero dizer não? Eu quero reinventar aquela velha opinião formada sobre tudo. Eu não posso ficar mudo diante do azul da imensidão. Infelizmente eu não me iludo com o vermelho da paixão, com o verde da esperança mesmo sabendo que a liberdade é azul. Nós precisamos uma planura incandescente de verdades e transparência. Nesse momento repudio o silêncio e a pena que se verga. A caneta escravizada. O teclado omisso. Eu quero uma canção baguala e um potro sem dono cortando o ventre da pampa gaucha. Me causa desconforto o líquido e certo, eu quero um sólido coberto nem que para isso tudo se desmanche no ar. Eu quero ficar ansioso porque sei que o sonho está ao alcance de minha mão. Eu não quero a indecisão porque essa indecisão protela a vitória.
Abraços e bom voto a todos.

Santa Maria, abril de 2010

A propósito, voto na chapa 3.