sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Um amigo

É muito difícil expressarmos um sentimento de perda quando as palavras que buscamos são pequenas e não condizem com o tamanho da tristeza que somos acometidos. É difícil expressarmos a ausência quando as palavras, simplesmente, não são suficientes. O nosso dicionário virtual não contempla uma expressão para escancarar um profundo sentimento de dor, vazio e pesar.
Quando perdemos um companheiro como o Ambrós, um amigo de longa data de ideais e ideias, o melhor que fazemos é nós recolher num absoluto silêncio em respeito a sua memória e, fundamentalmente, ao nosso eterno indignado coração.
Para o Ambrós a morte chegou prematuramente. No auge de suas realizações. Na melhor fase de sua vida e de planejamento de um futuro digno. O Ambrós estava numa fase nova no movimento bancário como liberado para trabalhar no sindicato. Há poucos dias, num cafezinho na cozinha do sindicato conversamos sobre o que faríamos na aposentadoria. Assim, a morte chegou no auge de seus sonhos.
O Ambrós era uma pessoa dedicada nas suas ações, ponderado nas atitudes e com uma vasta história a ser construída junto a seus familiares e aos companheiros de jornada. O Ambrós era uma pessoa tranquila com opiniões sinceras e firmes posições. Um amigo para qualquer hora. Um cidadão em sua essência. Um democrata. Nunca, nessa longa convivência, eu vi o Ambrós levantar a voz com algum companheiro em uma reunião. Nunca vi o Ambrós tripudiar com algum companheiro em um encontro. Nunca vi o Ambrós com o dedo em riste. Coisas estranhas para um sindicalista dito normal. Nesse sentido, o Ambrós não era normal. O Ambrós estava acima dessas altercações. O Ambrós era sensato, correto e transmitia uma serenidade incomum nesses tempos bicudos de opiniões incertas e imperfeitas.
O que fazermos diante dessa tristeza e do desencanto com o sentido da vida? Uma profunda reflexão sobre a nossa vivência, a nossa história e do que queremos doravante.
O momento é de tristeza, mas podemos fazer dessa melancolia uma reflexão sobre a morte, sobre a vida e sobre nossos anseios e desejos de um mundo que poderá ser diferente, ou não. O sindicalismo perde um militante. Um companheiro que ficou nos devendo mais uns trinta ou quarenta nãos de convivência e aprendizado.
Um minuto de silêncio é irrisório para homenagearmos a estatura humana do Ambrós, para saudarmos a sua memória uma sonora salva de palmas é pouco, muito pouco, mas é o mínimo que podemos fazer.

Corações de arame


Fazendo uma descomprometida e despretensiosa visita no site da Editora Movimento, deparei-me com o romance “Corações de arame” de Colmar Duarte.
Admirador da poesia do autor de Reflexão – música vencedora da primeira Califórnia da Canção – não tive dúvidas, cliquei em comprar e fiquei no aguardo do carteiro. Ansioso para conhecer a prosa do mestre Colmar Duarte.
Passados alguns dias recebo uma correspondência de Uruguaiana. Achei meio estranho. O remetente: Colmar Duarte.
Afoito, abro o invólucro e encontro no seu interior o livro “Corações de arame” devidamente autografado pelo autor com uma carinhosa dedicatória.
Uma bela e agradável surpresa. Um inesperado presente de Natal. Naquele mesmo instante comecei a leitura. O romance inicia com o suicídio de um capataz. E se transforma em um passeio indescritível pela cultura campeira. As idas e vindas do homem do campo. A nossa pátria “gaucha” sem fronteiras. Dos patrões das estâncias curtidos na pampa e dos filhos dos patrões das estâncias curtidos nos grandes centros. A lida das mulheres e homens campeiros, peões e prendas que durante anos a fio construíram nossa cultura. Trata dos traumas dos homens e mulheres simples desse sul do Brasil. A solidão, do amor, desencontros. A rádio local, o trem de passageiros... o pachorrento rodar do tempo na singeleza de um coração de arame.
Uma formidável leitura.

Corações de arame.
Colmar Duarte
Editora Movimento – 2008.