sábado, 28 de maio de 2011

O funk de Dom Pedrito

Athos Ronaldo Miralha da Cunha
twitter.com/athosronaldo

A pacata cidade de Dom Pedrito ganhou a mídia nacional por conta de um vídeo de funkeiros colocado na internet.
Tudo seria normal se os jovens não fossem recrutas fardados do Exército, o palco da dança uma sala da guarnição e a música o Hino Nacional.
A performance dos garotos de Dom Pedrito é engraçada, descolada da rigidez dos quartéis. A gurizada pampeana leva jeito no requebrado do funk. Convenhamos, se os milicos dançassem o “ai bota aqui o teu pezinho” não teria a mesma repercussão.
Evidente que os recrutas desrespeitaram um dos símbolos nacionais. E devem sofrer uma repreensão. Os militares, mais do que qualquer cidadão, devem ser exemplos no respeito aos símbolos pátrios. Mas entendo que, apenas, um puxão de orelhas fica de bom tamanho para repreender os assanhadinhos. Uma bela carraspana para punir o criativo “funk da farda”.
Penso que os gaúchos vão relevar o funk de Dom Pedrito, o bom-humor prevalecerá, mas eles que não inventem de fazer um funk com o Hino Rio-Grandense. Imagina os milicos cantando o “sirvam nossas façanhas” com aquele molejo todo. Aí nós viramos bicho com essa pouca vergonha.
Eu encaro o desempenho dos milicos como irreverência de jovens. Com um pouco de condescendência e esportividade o comandante resolve esse desacato. Um país em que os escândalos se sucedem sem perspectiva de punição, não há necessidade de ser severo no castigo aos recrutas. Nos últimos tempos tivemos notícias de mensalão, corrupção, toma-la-da-cá, propina e enriquecimento ilícito e ninguém, até o momento, foi parar na cadeia. Então, por que punir severamente a diversão dos soldadinhos numa dança de funk?
Devo confessar que não senti uma agressão ao símbolo e me diverti assistindo ao vídeo. Ou será que a performance da cantora Vanusa, na assembleia legislativa de São Paulo em 2009, também não foi um desrespeito? O jogador brasileiro do Barcelona que amarrou a bandeira do Brasil na cintura, após a conquista da Liga dos Campeões, também não foi uma afronta a um símbolo nacional?
Enfim, os soldadinhos – que não eram de chumbo – se divertiram além da conta e quiseram mostrar suas habilidades para o mundo sem medir as consequências.
Se formos punir, com o rigor da lei, quem desrespeita um dos símbolos nacionais, sugiro que elejamos a ética como um símbolo nacional. Quando a justiça for severa para quem desrespeita os valores éticos e republicanos, aí sim, poderemos punir rigorosamente os funkeiros de Dom Pedrito.