quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

África do Sul X Eslovênia

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Na Copa de 2002, realizada na Coréia e Japão, os jogos eram noturnos e nós tínhamos a torcida coruja. Uma torcida que varava as noites para assistir os principais confrontos.
Em uma madruga Jurema tem um sobressalto.
– Acorda Teobaldo! Acorda!
– Hummm... hein... o que é mulher?
– Acorda Teobaldo! Acorda!
Com um forte cutucão no marido, Jurema desperta o sonolento e lento Teobaldo no meio da noite. O visor do rádio-relógio marcava 4 horas da manhã.
– O que é Jurema? Tu ta ficando louca... no bom do sono. Bem na hora que eu iria chutar um pênalti. Isso é sacanagem e da grossa. Bem na hora que eu ia fazer um gol no Mazurkievski.
– Tão tocando a campainha, vai ver quem é.
– Quem será o maluco... acordar as pessoas a essa hora da madrugada.
– Vai lá atender, Teobaldo. Pode ser uma emergência.
Teobaldo, meio dormindo, levanta-se, coloca as pantufas verdes com pigmentos amarelos e dirige-se à porta. Tateando interruptores e arrastando pantufas pela casa adentro. Imagina doença na família. Pensou em uma tia de Caxias que tava meio mal de vida. – Com o pé no estribo – como se diz na campanha.
– Era só o que faltava! – comenta baixinho para si. – Quem sabe algum vizinho distraído, cheio de álcool após uma noite de farra.
O som estridente retumbava em seus ouvidos.
– Calma já estou indo – responde diante da insistência da “visita” em apertar o botão da campainha.
– Sim? Boa noite, bom dia... sei lá.
– O senhor é o proprietário da residência?
– Não! Sou o amante de minha mulher. Que cê acha?
Teobaldo boceja longamente, escora a cabeça no marco da porta, quase dormindo. Ainda não vislumbrou a fisionomia do indivíduo a sua frente. Sente-se um traste humano semi-acordado. As faces cansadas e os ombros caídos são consequências de uma noite mal-dormida. Ainda lamentava o gol perdido contra o Mazurkievski.
– Eu sou o pesquisador do Ibope e gostaria de saber quantas pessoas estão assistindo o jogo da África do Sul contra a Eslovênia?
– Hãm??!!
O único barulho ouvido por Jurema foi o estrondo da porta, fechada violentamente. Em seguida os passos de Teobaldo, calmamente, em direção ao quarto.
– Tem gente que não tem o que fazer. Pesquisa do Ibope. Por que não vai fazer pesquisa na China? Ora! Me aparece cada um!
– Quem é esse tal de Mazurkievski?
– O goleiro do Uruguai.
– Teobaldo, acorda Teobaldo. O Uruguai não está jogando essa Copa. Dããnnn.
– Da Copa de 70, Jurema, eu estava batendo um pênalti na Copa de 70.
Virou para o lado e dormiu o sono dos justos.
– Goooooooooooooooooollllllll.
Jurema acorda sobressaltada.
– O desgraçado do juiz anulou.
– Dorme, Teobaldo! Dorme!

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Adeus aos Eucaliptos

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Posso imaginar o que sentiu Larry Pinto de Farias ao ver o início da demolição do Estádio dos Eucaliptos. Possivelmente um sentimento de perda e vazio. Impotência diante da máquina avassaladora.
O estádio inaugurado num distante março no início da década de 30 dá lugar a um condomínio residencial. Em breve, o gramado onde brilharam Ivo, Alfeu, Nena, Assis, Ávila, Abigail, Russinho, Villalba, Tesourinha, Adãozinho e Carlitos, craques do lendário Rolo Compressor será, apenas, algumas lembranças de saudosos torcedores do Sport Club Internacional.
Não conheci os Eucaliptos, sequer fui fazer uma visita para ver o palco que abrigou jogos da Copa de 50. O Estádio dos Eucaliptos nunca esteve nos meus roteiros em visita a Porto Alegre. Não tive a felicidade de assistir ao Rolo Compressor e não vi as atuações de Tesourinha e Cia. Essa turma de boleiros só nos livros e fotos. A minha geração é a do Gigante da Beira-Rio. Que também é um templo sagrado de mitos e lendas do futebol. A geração do Bigorna, Bola-bola e Dom Elias Figueroa. Da mesma forma que alguns torcedores mais idosos têm a escalação do Rolo Compressor na cabeça, eu tenho a da equipe campeã de 75 e o inesquecível Gol Iluminado.
Não tenho esse sentimento de afeto ao Estádio dos Eucaliptos, mas posso imaginar que seja a mesma sensação melancólica de um ferroviário ao contemplar as ruínas de uma estação da Viação Férrea. E esse sentimento – como filho de ferroviário –, eu tenho presente. São emoções indescritíveis como folhar um corroído álbum de fotografias que contam a história de uma Era. A história de um tempo que está marcado nos gritos de uma torcida ou num gol de bicicleta.
O Estádio dos Eucaliptos ficará na memória dos torcedores – e na memória dos filhos e netos desses torcedores –, nas fotos, em um perdido filme de uma tabelinha de Larry e Carlitos. Na voz de um narrador alucinado com um desconcertante drible de Tesourinha. Essa é a historia que deverá ser contada e escrita nos pormenores detalhes.
É uma pena. Os Eucaliptos poderiam abrigar a história do futebol, a memória dos esportes, mas temos que compreender que futebol e time campeão não se faz com sentimentalismo e nostalgia. Hoje, futebol é um negócio cujo resultado vem das quatro linhas do gramado. Não basta ter um estádio, tem que ter time e time vencedor.
Assim, resignado, mas com o mesmo sentimento de Larry, entendo o adeus aos eucaliptos.
O Beira-Rio é o nosso palco e o Rolo Compressor nós refaremos junto ao pôr do sol do Guaíba. E quando o capitão colorado levantar a taça de campeão estará saudando os craques do passado e as glórias do Estádio dos Eucaliptos.


sábado, 25 de fevereiro de 2012

A morena da estação

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

O escritor Ignácio de Loyola Brandão colocou suas memórias de filho de ferroviário em um exemplar de crônicas. “A morena da estação” é um livro para quem tem sangue de operário nas veias.
Como um filho de ferroviário folheia um livro cujas histórias também fazem parte de sua infância? Como não sentir uma nostalgia quando o autor escreve sobre passagens que nos dizem tanto: carro restaurante, chefe de estação, estação, plataforma, se a infância de quem lê também foi nos trilhos, vagões e na saudosa Maria-Fumaça?
Então, só temos uma frase para definir o livro: excelente para todos aqueles que, de uma forma ou de outra, tem um sentimento de carinho pela Viação Férrea, tem um antepassado que bateu bigornas em um depósito.
As crônicas de Loyola Brandão estão ambientadas – a maioria delas – pelas estradas de ferro de São Paulo, na EFA – Estrada de Ferro de Araraquara –, cidade de nascimento de Loyola. Mas com um caráter universal, humanista e diria, ainda, de idolatria aos ferroviários. Pois quando temos a visão clara do que era a potência da Viação Férrea e vemos o que é hoje, percebemos nitidamente o descaso com o patrimônio público e jogo de interesses quando envolve os poderosos. Hoje, os trens, as estações e a Maria-Fumaça são apenas nacos de saudade. Não quero dizer com isso que devemos retomar a Maria-Fumaça, mas que o transporte ferroviário deveria ser um dos meios oferecidos a população.
O livro editado pela Editora Moderna tem uma bela encadernação e fotos da época e do auge da Viação Férrea. A capa não ficou no mesmo padrão do livro, poderia ser mais evocativa... mais ferrinho. Aliás, ferrinho é uma palavra que não consta no livro. Deve ser coisa de gaúcho.
Na página 44 a foto do carro restaurante mostra o luxo e o bom gosto dos que viajavam naqueles tempos. Na página 85 temos a foto da imponente Maria-Fumaça 27 saindo de um túnel. E na página 157 a foto da estação Bauru. Essa fotografia demonstra a grandiosidade e imponência da Viação Férrea.
“A morena da estação” é um título que nos faz ir ao encontro do livro. Uma espécie de amor a primeira vista. E é uma crônica muito bonita, cheia de sentimento e saudade. Transmite o que eram as estações da Viação. As idas e vindas. O adeus de uma partida e a eterna espera. Assim eram os tempos da Maria-Fumaça. É com esse sentimento que folheamos as páginas amarelas dos antigos álbuns de fotografias e é assim que folheamos as páginas de “A morena da estação”.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Anton Tchekhov - 99 conselhos de escrita

 Athos Ronaldo Miralha da Cunha

“Sem trama e sem final” é um pequeno livro editado pela Martins Fontes. São trechos de cartas do escritor russo Anton Tchekhov sobre os mais diversos assuntos, mas, principalmente, sobre a arte de escrever. E essas cartas transformam-se em conselhos e sugestões para quem está com pretensões literárias ou pretende aprimorar a escrita.
As abordagens transcendem o oficio de escrever, passam por uma visão de mundo, da vida, humanismo, censura e política.
Em uma carta a Aleksandr Lazariev, Tchekhov comenta sobre o uso das aspas e parênteses “Pelo amor de Deus, livre-se dos parênteses e das aspas! Para as orações intercaladas há um excelente sinal, que é o duplo travessão (– nome dos rios –). As aspas são usadas por duas categorias de escritores: os tímidos e os que não têm talento. Os primeiros assustam-se com a própria ousadia e originalidade, os outros, quando metem entre aspas uma palavra qualquer, estão querendo dizer com isso: repare, leitor, que palavra nova, original e ousada eu inventei!”.
Certamente, depois dessa leitura lembraremos, todos, de Tchekhov antes de colocarmos o entre aspas. Portanto, não “aspeie” suas palavras novas, isso parecerá ridículo.
Sobre dedicatória Tchekhov responde a Maksim Gorki “Em primeiro lugar sou totalmente contra as dedicatórias a pessoas vivas. Faça sua dedicatória, dentro do possível, sem aquele palavrório inútil, isto é, escrever apenas: dedico a fulano de tal e basta.”
Sobre autoridades locais em carta a Gorki “Nada mais fácil que descrever autoridades antipáticas; cai bem no gosto do leitor, mas só do leitor mais detestável, do mais medíocre.” Parece que estava escrevendo – invocando – o mundinho chamado Brasil... ou Santa Maria.
Piero Brunello fez a seleção das cartas e o prefácio. E o livreto de 109 páginas transforma-se em um belo exemplar sobre literatura. Leitura deveras interessante para os que lidam com a escrita.
O maior de todos os conselhos – no meu entendimento – trata do medo da estupidez. Em carta ao irmão Aleksandr Tchekhov “Meu conselho: tente em sua peça ser original, na medida do possível, ser inteligente, mas não tenha medo de parecer estúpido; o livre-pensamento é necessário e só é livre-pensador quem não teme escrever bobagens.” Ou seja, não ter medo de parecer estúpido. Essa parte é sensacional! Lembrei de Emile Zola quando fala “os poderosos temem a literatura porque é uma força que lhes escapa”.
Por fim a grande lição. “Perdoe todos aqueles que o ofenderam, não lhes dê confiança e, repito, ponha-se a escrever”. Fundamental para os que se dedicam nessa solitária atividade de colocar “impressões no papel”.
“Sem trama e sem final” eu li em uma tarde extemporânea e chuvosa, desse verão seco e escaldante, em algum lugar incerto e não sabido desse Rio Grande.
– Tchê! Como eu usei aspas nesse texto! E o pior, também sou tímido.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

O "mea culpa" é da esquerda ou só do PT


Athos Ronaldo Miralha da Cunha

O livro “A privataria tucana” demonstra nas suas 343 páginas como foram as privatizações nos tempos do governo FHC. A nossa indignação aumenta a cada página vencida... esgota-se bem antes do primeiro terço do livro. No final já estamos dando murros na mesa.
Evidentemente que essa “entrega” do patrimônio público foi alvo de fervorosos e implacáveis discursos capitaneados pelo PT. Privatização virou sinônimo do neoliberalismo brasileiro sob a égide do PSDB & Cia. Em um debate na RBS na eleição para governador, perguntado sobre a venda do Banrisul, Olívio Dutra respondeu “Não venderemos um prego sequer do patrimônio dos gaúchos”. E, como sabemos, não vendeu. Assim, ficaram bem demarcados os campos ideológicos de quem privatiza e de quem não vende patrimônio. No discurso da esquerda e do PT foi incorporada uma verdadeira ojeriza a palavra privatização, principalmente os setores estratégicos da economia. Particularmente, toda vez que vejo FHC eu lembro da Vale e de quanto ela valia.
Privatização virou uma fórmula matemática. Privatização = PSDB = FHC = Serra. A fórmula do neoliberalismo brasileiro. Sem raiz quadrada, mas com o máximo divisor comum e com quebra de caixa. Assimilamos que o PT não vende empresa pública. E isso é – ou era – um orgulho para os petistas. Era o jeito petista de governar.
Pode-se discutir o significado das palavras privatização e concessão. Podemos debater modelos, estratégias na privatização – tudo bem, concessão –, mas, em tese, a síntese é que houve uma entrega de empresas públicas à iniciativa privada. O bem público deixa de ser gerido pelo Estado.
A Rede Globo – tão combatida por ser uma das principais filiadas ao PIG – é uma concessão e continuará sendo de pai para filho “ad aeternum”. Lembro que na eleição de 89 o então candidato a presidente Leonel Brizola falou que sua primeira atitude como presidente da República seria cassar a concessão da Rede Globo. E o velho Briza conhecia o chão que estava pisando. Mas numa campanha a gente tem que dar um desconto. O fato é que nunca mais, na história desse país, se tocou no assunto. Não de foram tão acintosa como fez o velho caudilho dos pampas.
Tudo é defensável e os argumentos podem ser elaborados até com uma certa erudição, podemos debater as nem tão profundas diferenças entre privatização e concessão, mas um dado é concreto: houve um negócio com o patrimônio público. O Estado concede à iniciativa privada. Vende.
E aí, meus caros, há uma importante quebra de paradigmas. Um revés nos discursos, uma antiprática. Aqui cabe uma indagação: o PT será maduro suficiente para fazer um mea culpa? Uma autocrítica?
Como diz o ditado popular “se passa um boi, passa uma boiada”. Assim, os trabalhadores das empresas estatais devem ficar atentos. Logo estaremos discutindo e tentando explicar para a sociedade as concessões nos Portos, na Petrobras, Caixa e Banco do Brasil. Esse é o momento crucial para o movimento sindical retomar sua prática reivindicatória e protagonista, se quiser ainda de se chamar movimento sindical. É um importante debate para levar para as categorias e para a sociedade. No entanto, o movimento sindical pode fazer que não vê, que não é importante – não está na pauta –, mas “eles” entraram no nosso quintal...
Pela ótica de que o estado abre mão de administrar, tenho claro que a aparência do bicho é a mesma. Privatização ou concessão. O termo concessão fica travestido de uma indumentária casual, mas na essência o animal é o mesmo e a impressão que eu tenho é de um tucano olhando para uma estrela.
Caso a esquerda e o PT não revejam seus conceitos teremos que dar crédito ao FHC: a privatização não é ideológica.
E vamos sair vendendo a rodo.


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Já começaram os Cunha a se exibir

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Ramiz Galvão é um pacato lugarejo que teve seu auge nos meados do século passado, nos tempos em que a Maria-Fumaça fumegava nos trilhos do Rio Grande. Localizado logo após Rio Pardo no trajeto Santa Maria-Porto Alegre.
Havia em Ramiz Galvão o Depósito da Viação e o Socorro. O povoado era um pólo ferroviário e parada obrigatório de Getulio Vargas quando em campanha política. Tinha um cinema, associações, clubes de futebol e a Cooperativa da Viação. O Couto Futebol Clube – que os ferrinhos chamavam de Coito – era formado pelo primeiro e o segundo quadro. O seu Anísio Cunha jogava de lateral direito no primeiro e de goleiro no segundo. Fominha por futebol, assim como toda a família Cunha que morava na Costa.
Nos bailes da Associação dos Ferroviários – os Cunha, folgados pés-de-valsa – eram os que abriam a noitada fandangueira nos volteios dos chamamés e rancheiras. Claro, o seu Anísio era um dos Cunha que estava dançando o xote figurado. Dançarino fominha como toda a família Cunha que morava na Costa. Então, era comum ouvir os comentários da turma que ficava em volta do salão, receosos de serem os primeiros. – Já começaram os Cunha a se exibir!
Como sou da linhagem Cunha de Ramiz Galvão, oriunda do Piquiri, resolvi fazer umas aulas de dança no DTG Noel Guarani da UFSM, pois não herdei o gingado e os trejeitos dos Cunha para bailar. E não queria macular a memória dos Cunha nos bailes. Um semestre inteiro com aulas dos ritmos guascas. Milongas, chamamés, valsas, rancheiras, bugio e vaneras nos sábados à tarde na universidade num galpão do Parque de Exposições. Me adaptei à milonga com uma certa facilidade. Chamamé, eu deixo para os castelhanos.
O primeiro baile que “enfrentamos” após o final do semestre de danças foi um desastre. A impressão era de havíamos esquecido tudo. Conclusão: rematrícula no curso por mais um semestre.
Novamente, o primeiro baile que “enfrentamos” após o final do segundo semestre de danças foi um completo segundo desastre. A impressão era de não havíamos aprendido nada. Estávamos bloqueados. Conclusão: me exibir nas aberturas dos bailes, infelizmente, nem pensar. Ainda não tenho formação suficiente para tal. Não tenho o gene da dança dos Cunha.
Nos bailes que virão, estarei nas mesas vendo os outros pares abrirem os festejos. E serei um dos que fará coro se, por ventura, os parentes entrarem cheios de volteios no meio do salão.
– Já começaram os Cunha a se exibir!

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Mirem-se no exemplo daquelas mulheres da Ucrânia

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Após o término dos fóruns mundiais – o temático e o econômico –, em Porto Alegre e Davos, a conclusão que chegamos é que não temos conclusão nenhuma.
O fórum social que se contrapõem a Davos não conseguiu a plenitude na elaboração de uma agenda de esquerda para a humanidade. A esquerda nesse início de milênio ainda traz as consequências e cacoetes da queda do muro de Berlim. Faltam propostas que contemplem o meio ambiente, a democracia e Direitos Humanos numa sociedade socialista. Visto que as hoje existentes passam a lo largo do que entendemos por democracia, são reflexos da Guerra-fria e estão estagnadas numa esquerda obsoleta. Cuba é um exemplo de que falta muito a avançar para atingir nossos anseios diante de um copo de cuba libre.
Em Davos acontece algo semelhante, mas em sentido contrário. A crise do capitalismo se agrava pelo mundo afora. E não há um indicativo de resolução dessa crise via capital e muito menos pela via socialista.
Dentro de um quadro complexo de crise político, econômica e ideológica pipocam manifestações nos mais diversos cantos do planeta. A Grécia já anuncia demissões do funcionalismo público. No Egito um jogo de futebol termina com mais de 70 mortos. Na Espanha cidadãos mendigam um emprego. E no Brasil, a greve dos policiais da Bahia é tema recorrente nos noticiários por conta da violência extremada de alguns manifestantes.
No entanto, o que mais me chamou atenção foi a manifestação do grupo de mulheres da Ucrânia em Davos na Suíça. O grupo feminista ucraniano “Femen” fizeram protestos seminuas diante da sede do Fórum Econômico Mundial.
As mulheres da Ucrânia culpam o fórum de Davos pela crise econômica na Europa. Nos corpos elas pintam frases “Pobres por causa de vocês”. A marca do grupo feminista é a nudez. E não deixa de ser um protesto inteligente e pacífico. Acho que as mulheres da Ucrânia poderiam dar uma ajudinha ao CPERS nas manifestações pelo piso. Penso que seria uma bela manifestação. Teriam, desde já, meu total apoio.
As mulheres do grupo Femen não necessitam fazer uma escala na Bahia e, muito menos, os policiais em greve seguirem o exemplo de manifestações feministas ucranianas, afinal, um bando de marmanjos desnudos em Salvador não seria nada agradável e convincente.
Enfim, sindicalistas, mirem-se no exemplo daquelas mulheres da Ucrânia. Até podemos colocar o cd do Chico cantando “Mulheres de Atenas” para embalar as manifestações.