sábado, 31 de outubro de 2009

Companheiro Judas

Uma foto em que aparecem no mesmo palanque Lula, Sarney e Collor sorridentes, faceiros e como íntimos amigos, nos faz pensar com os olhos no bojo da cuia de chimarrão e um dedilhar de milonga missioneira no aparelho de som.
Há poucos anos seria impensável um palanque com aquela formação. Uma heresia política, uma afronta a ideologia e a trajetória de cada um dos três. Se, em um passado não tão remoto, houvesse o encontro, os sorrisos seriam amarelos e todos estariam desconfortáveis no improvisado “altar”. A foto sinalizava o que estava por vir. Um acordão entre PT e PMDB com vistas às eleições de 2010. Acordos fazem parte do tabuleiro político de poder. Mas existem acordos e acordos. Nesse caso, todos se transmutam em companheiros com um glorioso passado de lutas. Tudo parece fantasioso, falso e frágil com um único objetivo: manter o statu quo. Para exemplificar, nesse jogo de faz de conta na política brasileira, com vistas a eleição do ano que vem, o presidente da Fiesp e um evasivo ex-craque de futebol tornaram-se eméritos socialistas. Seriam os neossocialistas? Certamente, estarão nos comícios de Dilma.
Com esse acordão de cúpula para a candidatura a presidente do Brasil, em alguns estados a coisa fica encruada. No Rio Grande do Sul, em que palanque o Lula subirá? A coalizão terá o palanque de Tarso e o de Rigotto/Fogaça. Ou, quem sabe até lá, os gaúchos também terão uma chapa única apoiada por Lula?
Para justificar essas alianças de ocasião o presidente Lula afirmou que “se Jesus Cristo viesse para cá e Judas tivesse a votação em um partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão”. Ainda bem que Hitler está “mortinho da silva”, pois se ele voltar e tiver votos em um partido qualquer... (sic). Nem é bom pensar, mas o fato é que em política nada mais me surpreende. Se alguém disser que Ronaldo Caiado virou socialista, eu acredito.
Nessa coalizão a qualquer custo – lembremos que Judas se vendeu por 30 moedas – poderá haver uma traição. Se Pedro, que fazia parte do campo majoritário de Cristo, o negou três vezes, fica explícito que os cuidados devem ser redobrados ao se fazer acordos com os “Judas” de plantão. Um vice escolhido “a lo loco” poderá ser uma pedra no sapato por quatro anos.
Enfim, um velho vizinho maragato dizia do alto de sua sabedoria campeira “diga-me com quem andas e eu direi quem és”, mas em se tratando de acordos políticos e pragmatismo eleitoral o ditado não vale. Ou vale?

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Como montar um time campeão


Diante das frustradas expectativas da dupla Gre-Nal principalmente o Inter – que por vários anos começa o campeonato brasileiro como virtual campeão –, resolvi elaborar uma espécie de cartilha para montar um time vencedor. Ideias simples que ajudarão dirigentes incautos.
O primeiro passo é buscar um goleiro nas categorias de base do Inter que já foi uma escola de primeiro mundo. Qualquer guri que seja alemão e tenha a cara vermelha. Um iluminado que nos faça lembrar o “vai que é tua Taffarel”. Também pode ser um veterano goleiro em final de carreira, mas terá que ser alguém que tenha feito contrabando pelo rio Uruguai e arranhe no portunhol. Deve ser mulherengo e assíduo frequentador de prostíbulos de quinta categoria após os jogos de domingo. Tem que ter as mãos grandes, dedos tortos e o rosto com cicatrizes de entreveros com ferro branco.
Os zagueiros têm que ser dois brutamontes. Um deles tem que ser um castelhano que saiba recitar versos de Pablo Neruda e que tenha um cotovelo de aço. Tem que saber apreciar um bom vinho tinto. Pode ser chileno, argentino ou uruguaio e, no futuro, vir a ser candidato a vice-presidente em seu respectivo país. O outro deve ser do interior gaúcho e que tenha jogado descalço nas várzeas de Passo Fundo ou Santiago do Boqueirão. Se o sobrenome for Pontes tem a vaga garantida. Se for Perez manda embora.
Os alas não precisam saber jogar futebol. Basta terem um fôlego de leão e que tenham senso de direção para mandar a bola para o gol contrário. Curto e grosso: saibam dar balão para a área adversária.
Para o meio campo nós devemos buscar um guarda-roupa de quatro portas em Caçapava do Sul e mais dois castelhanos. Um uruguaio e um argentino. Necessariamente descendentes de tupamaros e montoneros. Os revólveres e as metralhadoras eles deixarão no vestiário. Por precaução será colocado detector de metais na entrada do gramado caso eles queiram entrar em campo com armas de fogo. Não seria leal com a equipe adversária.
Dois pontas de ofício e semi-analfabetos, mas com o mesmo senso de direção dos alas. Não precisa ter o mesmo fôlego, mas que treinem com chuteiras de ferro. E que sejam mandados pelas suas mulheres. Em casa devem dizer amém e no jogo partir o ala adversário ao meio.
O centro-avante não precisa ser humano, tem que ser alguém mais próximo dos macacos que saiba pular, xingar, levantar os braços e botar a cabeça na bola.
O técnico tem que usar expressões tipo: bosta, guampa, pata, corno e não deve chiar nas palavras com “s”. Se por um acaso resvalar e chiar nas palavras com “s” deve ser considerado “persona non grata” em toda a pampa “gaucha”. E despachado para seu estado de origem.
E todos devem ser tratados psicologicamente pelo analista de Bagé.
Enfim, cumprindo todo esse roteiro teremos times campeões, só não sei se será de futebol.

sábado, 10 de outubro de 2009

O renguinho da maratona


Todos os anos nossas expectativas são renovadas, mas na realidade o que renovamos no final das negociações são as nossas frustrações com a nossa valorização profissional e aumento real dos salários.
Meu pai tinha uma maneira bem simples de encarar os dissídios – ele era ferroviário no tempo da Maria-Fumaça, Era Vargas e ditadores em geral –, dizia ele: dissídio é índice, o resto é conversa mole para engambelar o trabalhador. Claro que estamos em outros tempos e as nossas negociações não se resumem ao índice e temos uma democracia e um presidente oriundo do povo.
Em todos esses anos, nas assembléias, volta à baila a questão da mesa única. E não será diferente enquanto não for feita uma consulta à categoria para vermos o seu real anseio. A mesa única é uma questão política que resolveremos (?) nos congressos da categoria. Mas temos que ter ciência que é polêmica.
Com relação ao ano de 2009 temos um acordo praticamente aceito pela categoria na Fenaban. No entanto, nas questões especificas dos bancos públicos temos o dissídio encruado. Com ênfase nas negociações da Caixa. E não é a primeira vez nos últimos tempos – diga-se Era Lula. No tempo de FHC era encruado e aniquilado. Bem-entendido? Aliás, quando penso em FHC me vem à mente a privatização da Vale e o sangue me sobe à cabeça.
Bueno, no Banco do Brasil, sem traumas, o índice passou de 6 (Fenaban) para 9%. Assim mesmo em algumas bases foi rejeitado. Na Caixa a proposta foi, simplesmente, insuficiente. Um colega afirmou, em tom jocoso, que a Caixa é o primo pobre dos bancos públicos. Diria que é o filho bastardo. Será que é um prêmio por ser na Caixa onde há maior mobilização?
Estamos num impasse: até quando levaremos a greve? Qual será o momento de encerrarmos esse movimento? Sabemos todos que é mais difícil sair do que entrar em uma greve. Qual o índice que fará com que voltemos ao trabalho? Eu defendo que tenhamos os mesmos 9% dado ao Banco do Brasil. Porque se nós olharmos a defasagem salarial da Caixa e do BB nos últimos 15 anos, abrangendo FHC e Lula, veremos que dará algo em torno de 90 a 100%. Então 3% acima do índice da Fenaban para os bancos públicos é um pequeno e justo avanço na recuperação das perdas. Aí, sim, poderemos dizer que nas negociações específicas, o governo Lula acenou com a recuperação de nossas perdas.
Caso contrário, (Antecipadamente peço desculpas por ser politicamente incorreto, mas a metáfora é espirituosa e bem-humorada), continuaremos – como disse o colega Rejo – o renguinho da maratona, com entusiasmo cheio de vontade, mas sempre correndo atrás e chegando atrasado.
– Esperem por mim! Esperem por mim! Esperem por mim!