sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Minha primeria vez - e única - no Olímpico



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Essa história ocorreu no século passado. Eu trabalhava em Porto Alegre e morava bem longe da Azenha, mas um frequentador assíduo dos cinemas e dos jogos no Beira-Rio.
O coirmão ainda não era bi da Libertadores e a derrota para o Ajax ainda não tinha sido sofrida. O Felipão não era treinador da Seleção Brasileira, apenas, um cara que vivia sem pressão.
O jogo em questão era pela Copa do Brasil de 1993. O GFPA enfrentaria um timeco do interior de Mato Grosso. O glorioso Sorriso Esporte Clube, uma espécie de Mazembe caipira. Jogão, um clássico.
Evidentemente, que num confronto desses o coirmão era 200% favorito. E eu jamais ventilaria a mínima hipótese em me deslocar até a Azenha para assistir a uma goleada azul, preta e branca. Um jogo risco zero para os azuis. Sorriso tricolor na certa.
Aí entra o inesperado que altera o desenrolar dos acontecimentos. Um dileto amigo de Santiago do Boqueirão – tricolor trirroxo e maragato – de passagem por Porto Alegre, me ligou convidando para o jogo no Olímpico. Estava trifaceiro.
– Tu está de sacanagem comigo? – falei ao telefone.
– Eu nunca fui ao Olímpico Monumental. Estou querendo assistir ao jogo, mas não quero ir sozinho. Até comprei um bombacha nova. Sabe como é, né. Eu sou meio grosso. Vamos lá, vai de sangue-doce. Só para me acompanhar.
– E o lenço, vai com o manto maragato que Honório Lemes ostentava nas peleias?
– Tu está louco. Vou com o lenço preto, estou de luto pelo meu avô, eu sou grosso, mas não sou trouxa.
Resultado da conversa. Fui ao tal Olímpico Monumental.
Para falar a verdade também era a minha primeira vez no estádio do coirmão. Éramos dois pela primeira vez, um extasiado, boquiaberto, feliz como paisano a meia guampa, faceiro que nem ganso novo em taipa de açude, como mosca em tampa de xarope.
Eu? Indiferente.
Para quem assistiu no meio da Mancha Verde a vitória do Internacional sobre o Palmeiras pela Copa do Brasil em 1992, um joguinho na galera tricolor não teria maiores problemas. Era só ficar na minha.
O amigo comprou os ingressos, o meu sacrifício não afetou o bolso, e nos acomodamos nas arquibancadas. Naqueles tempos ainda não havia a avalanche. Mas havia lanche e cerveja na lancheria.
A esmo comentei baixinho só para o amigo ouvir.
– Como o coirmão vai ganhar, torço para que dê briga e uma meia dúzia de atletas sejam expulsos. Afinal, vim aqui para me divertir.
Pude ver de soslaio um sorrisinho amarelo. Nada falou estava animado demais para se aborrecer.
O GFPA ganhou, como era previsto, uma goleada de 5 a 2. O jogo teve, apenas, uma expulsão e dois cartões amarelos para o Sorriso.
Lógico, voltamos a pé para a casa. Pois, até à pé nós voltaremos. E meu amigo era todo sorriso. E eu indiferente, mas tinha feito um tricolor feliz. Uma boa ação. Naquele ano o GFPA perderia para o Cruzeiro e ficaria com o vice-campeonato.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Frutas amargas




Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Um livro do Colmar Duarte a gente espera mateando despacito sob as melenas de um umbu. Aguarda-se na expectativa de nos encontrarmos como gaúchos. Pacientemente contemplando o pôr do sol na pampa, saboreando os doces sonhos de criança ou na parceria de um mate cevado pela patroa.
Um livro do Colmar transita pela vivência dos autênticos homens e mulheres do campo e a profundidade dessa alma campesina que habita em cada um de nós. Tem cheiro de mato e plenitude do cosmo. O livro do Colmar Duarte é neto de uma torcaça e do vento Pampeiro. É um cardeal nas laranjeiras.
A universalidade está expressa na trajetória literária desse uruguaianense. E em “Frutas amargas” temos o universo dos gaúchos, os encontros e desencontros. As perdas que amarguram corações e sentimentos feridos por uma partida. Há traição, amizade e um desejo incontido de ser feliz.
Há muito mais em “Frutas amargas”. A esplêndida diferença entre paixão e amor: A paixão é tormenta, o amor é chuva sem vento. A paixão derruba muros e arranca telhados que, ao serem reconstruídos, apagam os rastros de sua passagem. Já quando do amor se trata, os ventos não destroçam muros nem levam telhados, mas abrem fissuras e deixam goteiras; e essas são para toda a vida.
Há sentimento, saudade, olhares furtivos, tiradas espirituosas – temperos de um humor campeiro e inteligente – e reflexão sobre o que temos feito e o que deveríamos fazer. No livro o campo está presente e o campesino é protagonista.
Nesse “Frutas amargas” temos um passeio pelos pagos gaúchos. Personagens marcantes por serem simples e, dialeticamente, complexos por serem tratados com destreza e sapiência de quem carrega no seu interior a lida campeira.
“Por algo sou pelo duro e o campo é meu elemento, na alma penas e vento” é assim que Colmar se define como um genuíno pampiano no poema “Canto livre”. E, assim, também é a narrativa: o campo é o elemento.
Tome um mate sem pressa e vá sorvendo essas páginas, pois não faltará tempo e açúcar suficiente para as “Fruta amargas” que necessitamos adoçar. Pois, o que era doce não foi esquecido. Como bem falou a marcante personagem Dalva.
Boa leitura.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Arena - o retorno

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

Os preparativos para a Copa de 2014 envolvem a reforma e construção dos estádios. Assim, todas as sedes, subsedes, subsubsedes e pseudossedes resolveram construir Arenas de futebol. Com financiamento público e cifras estratosféricas.
No entanto, uma nova, ou renovada Arena, está causando reboliço na política e impacto nas redes sociais. A Aliança Renovadora Nacional está sendo articulada por jovens e deverá ser refundada.
Como sabemos a Arena – o partido – foi criado para dar sustentação política a ditadura instalada no Brasil em 1964. Como os ditadores eram “democratas e bonzinhos” também fundaram, ou deixaram fundar, um partido de oposição o MDB sucedido pelo PMDB. Aliás, tem um cidadão gaúcho há quase três décadas no senado que sempre se reporta ao PMDB como o velho MDB. Mas isso é outra história...
O fato é que a Arena – o partido – está voltando.
Uma jovem de Caxias do Sul – Cibele Baginski – está nessa organização. Bem articulada, conservadora e de direita. Usa piercing e tem os cabelos pintados. E o estilo debochado e irônico dos adolescentes. Ou seja, tem o perfil da direita (rsrs).
No vídeo no YouTube faz um pronunciamento em um banco da praça com uma cuia de chimarrão na mão – uma guria que cultua as tradições – e ali num vídeo improvisado e não oficial desanca o pau nas esquerdas e comunistas em geral. “A gente está de saco cheio de comunistas e esquerdistas enchendo o nosso saco”.
Ato contínuo, no Facebook houve a contrapartida com a convocação de uma manifestação na Esquina Democrática em Porto Alegre contra a refundação da Arena, o partido.
A constituição garante a livre organização de associações, partidos e sindicatos então, as pessoas que estão reorganizando a Arena estão no seu direito. Eu, particularmente, não dou a mínima para a refundação da Arena, me coloco contrário a sua ideologia. Aliás, não tenho nada contra e muito menos a favor da refundação da Arena. Acho que é um partido natimorto. Mas se conseguirem fundar, eu penso que é benéfico para a política. Hoje os políticos de direita estão camuflados em partidos ditos democratas e populares e, inclusive, assediados por outros partidos ditos de esquerdas e socialistas. Haja vista os apoios de Ana Amélia aos comunistas em Porto Alegre e Paulo Maluf ao PT em São Paulo. E essas duas pessoas são oriundas da Arena. Com a refundação da Arena saberemos onde está a direita. Mesmo que sejam os filhotes dos filhotes daqueles que estavam de mãos dadas com os militares dizendo amem e sim senhor para tudo.
Assim, a Arena – o partido – congregará os conservadores, nacionalistas, direitistas, integralistas e preconceituosos em geral numa mesma sigla. E quem apertar a mão do “Maluf de plantão” deles, selando uma aliança, saberá com quem está lidando.
Ironicamente em 2013 teremos várias Arenas – estádios – pelo Brasil e uma Arena – o partido – para demarcar a direita. Então, concluo que Arena e futebol nunca estiveram separados. “Todos juntos vamos pra frente Brasil. Salve a seleção”.


domingo, 18 de novembro de 2012

Ministro! Eu também

Athos Ronaldo Miralha da Cunha

No mesmo instante em que o Supremo Tribunal Federal estipula as penas dos figurões da política nacional – em breve assistirão o sol nascer quadrado –, e dos presídios veem as ordens de vandalismo em São Paulo e Florianópolis, o Ministro da Justiça me sai com essa: “Do fundo do meu coração, se fosse para cumprir muitos anos em uma prisão nossa, eu preferia morrer”.
Não sei se rio ou se choro.
Se o ministro que tem a caneta na mão para resolver as questões de segurança prefere morrer o que dirá de nós meros mortais...
Lembrando que José Eduardo Cardozo é governo a, pelo menos, dez anos. E só agora haja essa constatação. O que esperarmos dos governantes no tocante a segurança?
Logo que ouvi essa pérola do ministro, lembrei uma outra frase – que também envolvia o ato de suicídio de um governante – e causou impacto nos brasileiros pronunciada pelo presidente João Figueiredo. Ao ser perguntado o que faria se tivesse que viver com um salário mínimo por mês. “Dava um tiro na cabeça.” Foi a resposta do presidente que preferia o cheiro de cavalo ao cheiro do povo.
Muitos anos separam as frases, mas demostram o descaso desses senhores com a coisa pública e com o povo. São pessoas acostumadas e bem adaptadas às engrenagens do poder e se mantém distantes dos problemas que afligem a nação. Ao invés de propor políticas para solucionar os problemas, preferem frases de efeito e mídia.
Maluf incluiu em seu reportório o “estupra, mas não mata”. Marta Suplicy o “relaxa e goza” que é um estupra, mas não mata light. E assim vamos indo nessa democracia a espera de melhora, pão na mesa, saúde, educação, mas o que vemos é trololó e nhenhenhém.
Carlos Drummond escreveu “São tão fortes as coisas! Mas eu não sou as coisas e me revolto.” Diante dessa inanição para resolver problemas cruciais e eternos nos resta sonharmos com a próxima eleição para, novamente, mudar as coisas. Mas com a clareza que não somos as coisas.
Nas questões que envolvem políticas públicas cada cidadão não pode ficar no seu quadrado. Claro, os condenados devem permanecer cada um no seu quadrado, mas um ministro, jamais.
A propósito: Ministro! Eu também preferia morrer.