quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O shortinho e o cangote de Drummond



Athos Ronaldo Miralha da Cunha

O shortinho das gurias do Colégio Anchieta não me sai da cabeça. É uma pauta muito curta, restrita ao verão. No primeiro sopro do vento Sul será um tema esquecido. Mas é essa a pauta educacional dos últimos dias: o uso do shortinho num tradicional colégio da capital.
Louvável essa iniciativa para discutir o machismo, justamente na formação dos futuros cidadãos. Quando os jovens estão despontando para a vida. Liberando aquela alquimia juvenil. E no bojo dessa discussão entra o bullying, racismo, preconceito, discriminação e, principalmente, a educação. Esse o ponto fundamental: educação.
E aqui entra o escritor Drummond na crônica e a ocupação dos espaços públicos. Temos estátuas de personalidades nas mais diversas praças e calçadas do Brasil. Essas celebridades homenageadas são seguidamente vandalizadas ou agredidas enquanto obras de arte. Temos vários exemplos de obras vandalizadas nesses espaços: Drummond e Quintana em Porto Alegre já sofreram maus tratos na praça da Alfândega. Em Santa Maria várias esculturas já sofreram com os vândalos. No Rio de Janeiro Drummond é um dos mais afetados pelos os maravilhosos “turistas” acidentais na cidade maravilhosa. A mais recente foi a foto que circulou na web de uma garota... mulher montada no cangote do poeta. Coitado do estático Drummond “que não era as coisas e se revoltava”. Ela estava de shortinho como se estivesse “Atrás da Verde-e-Rosa só não vai quem já morreu”. Não era o sonho meu e nem de Drummond. Chocante para quem já esteve na orla e teve o privilégio de tirar uma foto ao lado do poeta. Mas, então, temos que tratar de shortinho e educação. Por que não?
O shortinho das gurias do Colégio Anchieta e a moça de shortinho no cangote do poeta fizeram um bem para o debate. Temos que combater o racismo na mais sua tenra idade, mas também a educação. E o nosso relacionamento com os monumentos, com a arte e com a convivência urbana.
Vai ter shortinho sim. Mas esse “vai ter” vai muito além do shortinho. Acho que vai ter cidadania... assim espero.